domingo, 12 de julho de 2015

ERA PRA SER ASSIM!

Mc 6,7-13
Minha irmã, meu irmão, refletir o evangelho não é uma meditação fácil. Não é um exercício apenas da inteligência. Envolve algumas experiências pessoais e do exercício pastoral. Exige memória e projeção, pois se algumas ideias são fruto do que vivi nas pregações e missões, elas mesmas podem ainda fazer muito bem a quem as lê hoje e ajudá-los em algumas decisões futuras. Faço uma reflexão além do ambão, além do púlpito, mas não sem a Igreja, a qual sirvo. Estas reflexões são como uma obrigação, “ai de mim se não evangelizar!” (1 Cor 9, 16)

A evangelização é um mandato missionário em São Mateus, capítulo 28, portanto uma ordem dada pelo próprio Jesus: “ide e pregai o evangelho a toda criatura, ensinando-as e batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. (v. 19) Isto, antes das mídias sociais e redes, antes da internet, em que todos têm acesso a quase tudo e pode, inclusive, escolher de que maneira farão a sua evangelização. Nem o Reino nem a Palavra podem ser detidos, aprisionados geográfica, histórica ou temporalmente. Por isso arriscaria em dizer que o anúncio da Boa Nova, quase que se dá sozinho, uma vez que “o Espírito sopra onde quer”. (Cf. Jo 3, 8)

No evangelho deste domingo, 15ª do Tempo Comum, Ano B, Jesus chama os doze, em Marcos, uma acentuada centralidade eclesial que mais tarde será colocada nas mãos de todos os discípulos. Há um particular que gostaria de priorizar no texto em questão: “enviou e logo lhes deu poder sobre os espíritos impuros” (Mc 6, 7). Quero destacar esta ligação primeira. A segunda é a de que o pregador pode se tornar uma testemunha contra os seus ouvintes, e a terceira confirma a primeira, mas acrescenta a cura de numerosos doentes.

Primeiramente, ao que parece, a evangelização está ligada à purificação e à necessidade da expulsão dos espíritos impuros. Será que uma evangelização que não exerce poder sobre demônios está investida da autoridade de Jesus? Será que o anúncio do evangelho convive com práticas impuras, sejam elas físicas ou espirituais, morais ou particulares, pessoais ou sociais? Uma comunidade evangelizada ou um pregador do evangelho pode tolerar tais conivências? Expulsar espíritos impuros é um dos poderes do evangelizador.

Em segundo lugar, podemos afirmar que o pregador do evangelho também recebeu a sabedoria de reconhecer quais espíritos são impuros, quais árvores Deus não plantou (Mt 15, 13) ou de que tipo elas são, através de seus frutos (Lc 6, 44). Se houver diferença ou rejeição aos missionários, Jesus não espera lamento, mas um testemunho contra aqueles que não lhes deram ouvidos. Eis uma linha difícil de entender. Jesus manda os evangelizadores testemunharem contra as pessoas que não lhes deram ouvidos? Quer dizer que um pregador rejeitado pode falar mal daqueles que o renegaram? Ao menos é o que está escrito: “sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!” (Mc 6, 11)

Já ouvi as duas partes. Já ouvi pastores falarem de seu rebanho, já ouvi fieis falarem de seus ministros. Note que neste evangelho se trata de testemunha contra aqueles que não recebem nem escutam evangelizadores. Há muita fofoca em igreja, como em quase todo aglomerado de pessoas. Fofoca não é testemunho, é invenção e disse me disse. Testemunhar contra uma comunidade ou pessoas que não recebem um pregador é declarar sua rejeição a quem o enviou. É rejeitar a Jesus e ao próprio Deus, o seu Pai. (Lc 10, 16) É séria e grave a situação de quem se nega a um dos escolhidos de Jesus. Deverá responder diretamente a Ele, pois não são as nossas simpatias que embelezam a Boa Nova, mas a notícia em si. Alguns de nós, de fato, escolhemos o conteúdo pelo rótulo, a letra pela música e o evangelho pelo pregador.

Há um detalhe importante nas escolhas que fazemos de quem queremos ouvir a pregação: ‘é preciso que dele saia poder’; que tenha a força de nos livrar dos demônios e de nos curar as enfermidades. Um pregador assim investido da força do alto será credível. Lembre também o evangelizador, para ser querido, quem é que ele representa e em nome de quem ele se apresenta. Não seja ele tão inconsistente que não se perceba boa nova alguma em seus lábios, ou semelhança, ainda que tênue, com o seu Mestre.

Podemos ainda supor que seja difícil reconhecer Jesus e Sua autoridade naquele que não se deu conta de quem o mandou pregar. É difícil receber ou mesmo dar ouvidos a alguém que fala como demônio e vive como enfermo. Lamentável é que alguns pregam e não vivem. Parece até um desafio quando Jesus diz: “façam o que dizem, mas não façam o que fazem, pois não praticam o que pregam!” (Mt 23, 3) Mas, viver o evangelho será sempre o papel do cristão, por isso, até uma pessoa que não o viva em plenitude não se descompromete de anunciá-lo. Um pai alcoólatra pode dizer ao filho que não beba; uma mãe adúltera pode aconselhar uma filha para que não faça o mesmo. Pecadores podem, com certeza, anunciar as maravilhas do evangelho que gostariam de viver.

A evangelização jamais se apresentará como uma disputa de aparências. Uma competição na comunidade ou burocracia institucional. Todos nós estamos sob as mesmas recomendações deste envio de Jesus; precisamos nos corrigir e exemplar uns aos outros antes de nos apressarmos em rejeitar ou sacudir a poeira dos pés, ou ainda lançar fogo do céu para nos consumir. (Cf. Lc 9, 53-56; Mt 13, 49) A palavra de ordem é pregar mesmo que não nos deem ouvidos.

Os demônios, estes sim, precisam ser expulsos, e as enfermidades curadas. Estas são notas distintivas de uma boa ação evangelizadora, tanto em pessoas quanto em comunidades. Receber a notícia de Jesus e se manter na mesma zona de confortos, comodidades e vícios, seria transformar a evangelização numa prática comercial, onde se vende um produto segundo as benesses, prazeres e vantagens, oportunistas e convenientes. O evangelho é vida, e como tal é uma prática vivencial. Não apenas um estilo de vida, mas a própria existência cristã. Tanto o evangelizador quanto o evangelizado pregam mutuamente com as suas próprias vidas, aprendem e ensinam mutuamente. Isto é conversão. Numa vida assim não há lugar para demônios e não há doente sem cuidados. Era pra ser assim!

Reze por mim e que os demônios se submetam. Que a sua semana seja evangelizadora!
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo...

12.07.2015
Pe. Adeilton Santana Nogueira


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