Mc 6,1-6
O título desta reflexão beira uma ofensa, não fosse a
intenção provocativa e a inegável referência bíblica daqueles que não
acreditaram nEle, justamente pelo fato de O conhecerem ou mesmo de já O terem
visto. Mas, não foi para isto que veio, para ser conhecido e dar a conhecer a
vontade do Pai? Porém, não foi bem aceito (Cf. Jo 1, 11). O que teria falhado
nesse programa divino tão perfeito? Em quais das partes houve uma fraqueza
nesse projeto: origem, método ou destinatários? Sucesso seria acertar sempre?
Erra quem se perde entre os mais próximos? Senão vejamos!
1. Jesus
dirigiu-Se à sua terra e os discípulos acompanharam-n’O. 2. Quando chegou o
sábado, começou a ensinar na sinagoga. Os numerosos ouvintes estavam admirados
e diziam: «De onde Lhe vem tudo isto? Que sabedoria é esta que Lhe foi dada e
os prodigiosos milagres feitos por suas mãos?
Até aqui tudo está perfeito. O mestre seguido de seus
discípulos ensinando na sinagoga em dia de sábado, diríamos uma autêntica
escola rabínica; multidão ouvinte e admirada com a sua sabedoria e milagres que
Ele operava. Tudo estava sob controle. O sucesso pastoral que todo missionário
deseja. A comunidade que toda liderança passa uma vida e nem sempre conquista.
A paróquia que todo sacerdote quer comandar, ordeira e crédula.
A veneração do povo de Jesus durou até quando o reconheceram.
Durou pouco. Os questionamentos em torno da familiaridade e as histórias dos
amigos, sua profissão, seus feitos do passado, seus parentes, parece que tudo
influenciou no conceito que seus concidadãos formaram dele. Não é de se
imaginar que fosse algo negativo. Porém teve um efeito negativo de rejeição,
perda de interesse e até descrédito.
3. Não é ele o
carpinteiro, Filho de Maria, e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E
não estão as suas irmãs aqui entre nós?» E ficavam perplexos a seu respeito.
A localidade é um critério de propaganda válido. Tanto na
política quando na publicidade são formas válidas de se fazer conhecido,
buscando as referências mais próximas e ligações com a comunidade de origem. No
entanto, que fenômeno foi esse que, na vida de Jesus e, portanto, no
cristianismo, acentua-se de maneira que quase vira regra de fato: “um bom
profeta não é aceito nem mesmo entre os de sua terra”?
Não raro se houve dizer que as cenas da rejeição de Jesus
entre os seus se repete entre nós. A comunidade jamais saberá reconhecer o
valor dos seus profetas. Embora pareça uma afirmação taxativa, ela segue a
linha do evangelho de hoje. Não aceitou Jesus, por que me reconheceria? Acaso
sou melhor do que Ele? Assim poderíamos consolar um pregador em relação aos
seus concidadãos e até mesmo confrades.
Este verso bíblico é muito usado entre os irmãos de
outras comunidades evangélicas, como sendo uma prova cabal de que Jesus teve
outros irmãos. Eu mesmo pensava assim até me converter ao catolicismo. O que é
mais provável, segundo a teologia, é que José teria sido viúvo, de onde
decorrem ‘os irmãos de Jesus’. É poético até pensar que Jesus já entrasse no
mundo, numa família, sendo unigênito, primogênito e irmão de outros. Ele também
saiu deste mundo do mesmo modo, aperfeiçoando tudo que encontrou, inclusive a
família, não deixa a sua mãe sozinha (Cf. Jo 19, 26).
4. Jesus
disse-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua terra, entre os seus parentes e
em sua casa». 5. E não podia ali fazer qualquer milagre; apenas curou alguns
doentes, impondo-lhes as mãos.
A incredulidade no missionário é uma das maiores chagas
nas comunidades de fé. Ela tira o aspecto mais sobrenatural da religião, o de
que Deus é quem opera. A incredulidade do missionário é outra chaga tão grande
quanto a do povo nele, talvez ainda pior. Ela tira de si mesmo a capacidade de
agradar a Deus (Hb 11, 6) antes que aos homens (Cf. At 5, 29; Gl 1, 10).
Fracassada não é a missão de alguém que não converte os seus mais próximos.
Fracassada é a missão de alguém que acredita mais na opinião da comunidade do
que em si mesmo.
6. Estava
admirado com a falta de fé daquela gente. E percorria as aldeias dos arredores,
ensinando.
Nada, jamais, impediu Jesus de continuar seguindo em
frente, nem mesmo a incredulidade dos seus mais próximos, nem mesmo dos parentes,
nem dos familiares. Saber para que veio, qual a sua missão e até onde deveria
ir, esse foi o mapa mental, o seu projeto de ação bem determinado, o seu
programa político, a sua marca midiática. Aliás ele se fez mídia de si mesmo,
sua própria plataforma, propaganda e marketing. Ele é a tendência, a moda, o
estilo, a forma e o conteúdo, o modo e o método. Ele é o caminho, a Verdade e a
Vida (Jo 14, 6).
De suas rejeições decorreram uma maior intensidade
missionária. De seus ‘fracassos’ um maior avanço pastoral e eloquência. A cada
desistência uma conquista, a cada dor um consolo, a cada tentação uma vitória.
O seu silêncio fala tanto quanto as suas palavras; as suas quedas e prostração têm
tanta força quanto as suas peregrinações; as suas chagas também doem em nós,
mas nos curam. Cale Jesus, freie-O, aprisione-O, ignore-O e muito mais força e
graça sairão dEle. Tente impedi-Lo de fazer a vontade do Pai e Deus mesmo
falará. Derrube-O e os anjos O sustentarão, pois nenhum mal podemos Lhe fazer.
Apesar de tudo o que foi dito sobre o entusiasmo
inabalável de Jesus, note ainda que Ele não deixou de se admirar com a falta de
fé das pessoas que O seguiam. Tenho conhecido muita gente de igreja que tem
receio de fazê-lo também. Acham que é pecado ou que vai incomodar o irmão se o desmascarar.
Não crer no que faz ou não crer em quem faz são os dois lados da mesma ferida
aberta. Portanto, a cicatrização depende de sanar ambos os lados. É preciso
tocar nas feridas, mas em todas. Admirar-se dos incrédulos foi uma constante em
nosso Senhor. Não deixava de fazê-lo nem de dizê-lo. Assim se admira da fé
turva dos discípulos na tempestade (Mc 4), de Pedro afundando (Mt 14, 31),
porém exalta a da viúva pagã (Mt 15, 27) e a do centurião ao passo que expõe a
de seu povo (Mt 8, 10).
Tenha as suas convicções firmes, meu irmão e minha irmã.
Lembre que ‘ajuda mais quem atrapalha menos’, e não tema seguir em frente. Como
diz um ditado árabe: “os cães ladram e a caravana passa!” Desejo a você uma
semana em paz e uma consciência tranquila.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo...
05.07.2015
Pe. Adeilton Santana Nogueira
Pe. Adeilton Santana Nogueira
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