domingo, 5 de julho de 2015

UM JESUS SEM CREDIBILIDADE

Mc 6,1-6

O título desta reflexão beira uma ofensa, não fosse a intenção provocativa e a inegável referência bíblica daqueles que não acreditaram nEle, justamente pelo fato de O conhecerem ou mesmo de já O terem visto. Mas, não foi para isto que veio, para ser conhecido e dar a conhecer a vontade do Pai? Porém, não foi bem aceito (Cf. Jo 1, 11). O que teria falhado nesse programa divino tão perfeito? Em quais das partes houve uma fraqueza nesse projeto: origem, método ou destinatários? Sucesso seria acertar sempre? Erra quem se perde entre os mais próximos? Senão vejamos!

1. Jesus dirigiu-Se à sua terra e os discípulos acompanharam-n’O. 2. Quando chegou o sábado, começou a ensinar na sinagoga. Os numerosos ouvintes estavam admirados e diziam: «De onde Lhe vem tudo isto? Que sabedoria é esta que Lhe foi dada e os prodigiosos milagres feitos por suas mãos?

Até aqui tudo está perfeito. O mestre seguido de seus discípulos ensinando na sinagoga em dia de sábado, diríamos uma autêntica escola rabínica; multidão ouvinte e admirada com a sua sabedoria e milagres que Ele operava. Tudo estava sob controle. O sucesso pastoral que todo missionário deseja. A comunidade que toda liderança passa uma vida e nem sempre conquista. A paróquia que todo sacerdote quer comandar, ordeira e crédula.

A veneração do povo de Jesus durou até quando o reconheceram. Durou pouco. Os questionamentos em torno da familiaridade e as histórias dos amigos, sua profissão, seus feitos do passado, seus parentes, parece que tudo influenciou no conceito que seus concidadãos formaram dele. Não é de se imaginar que fosse algo negativo. Porém teve um efeito negativo de rejeição, perda de interesse e até descrédito.

3. Não é ele o carpinteiro, Filho de Maria, e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E não estão as suas irmãs aqui entre nós?» E ficavam perplexos a seu respeito.

A localidade é um critério de propaganda válido. Tanto na política quando na publicidade são formas válidas de se fazer conhecido, buscando as referências mais próximas e ligações com a comunidade de origem. No entanto, que fenômeno foi esse que, na vida de Jesus e, portanto, no cristianismo, acentua-se de maneira que quase vira regra de fato: “um bom profeta não é aceito nem mesmo entre os de sua terra”?

Não raro se houve dizer que as cenas da rejeição de Jesus entre os seus se repete entre nós. A comunidade jamais saberá reconhecer o valor dos seus profetas. Embora pareça uma afirmação taxativa, ela segue a linha do evangelho de hoje. Não aceitou Jesus, por que me reconheceria? Acaso sou melhor do que Ele? Assim poderíamos consolar um pregador em relação aos seus concidadãos e até mesmo confrades.

Este verso bíblico é muito usado entre os irmãos de outras comunidades evangélicas, como sendo uma prova cabal de que Jesus teve outros irmãos. Eu mesmo pensava assim até me converter ao catolicismo. O que é mais provável, segundo a teologia, é que José teria sido viúvo, de onde decorrem ‘os irmãos de Jesus’. É poético até pensar que Jesus já entrasse no mundo, numa família, sendo unigênito, primogênito e irmão de outros. Ele também saiu deste mundo do mesmo modo, aperfeiçoando tudo que encontrou, inclusive a família, não deixa a sua mãe sozinha (Cf. Jo 19, 26).

4. Jesus disse-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua terra, entre os seus parentes e em sua casa». 5. E não podia ali fazer qualquer milagre; apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos.

A incredulidade no missionário é uma das maiores chagas nas comunidades de fé. Ela tira o aspecto mais sobrenatural da religião, o de que Deus é quem opera. A incredulidade do missionário é outra chaga tão grande quanto a do povo nele, talvez ainda pior. Ela tira de si mesmo a capacidade de agradar a Deus (Hb 11, 6) antes que aos homens (Cf. At 5, 29; Gl 1, 10). Fracassada não é a missão de alguém que não converte os seus mais próximos. Fracassada é a missão de alguém que acredita mais na opinião da comunidade do que em si mesmo.

6. Estava admirado com a falta de fé daquela gente. E percorria as aldeias dos arredores, ensinando.

Nada, jamais, impediu Jesus de continuar seguindo em frente, nem mesmo a incredulidade dos seus mais próximos, nem mesmo dos parentes, nem dos familiares. Saber para que veio, qual a sua missão e até onde deveria ir, esse foi o mapa mental, o seu projeto de ação bem determinado, o seu programa político, a sua marca midiática. Aliás ele se fez mídia de si mesmo, sua própria plataforma, propaganda e marketing. Ele é a tendência, a moda, o estilo, a forma e o conteúdo, o modo e o método. Ele é o caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14, 6).

De suas rejeições decorreram uma maior intensidade missionária. De seus ‘fracassos’ um maior avanço pastoral e eloquência. A cada desistência uma conquista, a cada dor um consolo, a cada tentação uma vitória. O seu silêncio fala tanto quanto as suas palavras; as suas quedas e prostração têm tanta força quanto as suas peregrinações; as suas chagas também doem em nós, mas nos curam. Cale Jesus, freie-O, aprisione-O, ignore-O e muito mais força e graça sairão dEle. Tente impedi-Lo de fazer a vontade do Pai e Deus mesmo falará. Derrube-O e os anjos O sustentarão, pois nenhum mal podemos Lhe fazer.

Apesar de tudo o que foi dito sobre o entusiasmo inabalável de Jesus, note ainda que Ele não deixou de se admirar com a falta de fé das pessoas que O seguiam. Tenho conhecido muita gente de igreja que tem receio de fazê-lo também. Acham que é pecado ou que vai incomodar o irmão se o desmascarar. Não crer no que faz ou não crer em quem faz são os dois lados da mesma ferida aberta. Portanto, a cicatrização depende de sanar ambos os lados. É preciso tocar nas feridas, mas em todas. Admirar-se dos incrédulos foi uma constante em nosso Senhor. Não deixava de fazê-lo nem de dizê-lo. Assim se admira da fé turva dos discípulos na tempestade (Mc 4), de Pedro afundando (Mt 14, 31), porém exalta a da viúva pagã (Mt 15, 27) e a do centurião ao passo que expõe a de seu povo (Mt 8, 10).

Tenha as suas convicções firmes, meu irmão e minha irmã. Lembre que ‘ajuda mais quem atrapalha menos’, e não tema seguir em frente. Como diz um ditado árabe: “os cães ladram e a caravana passa!” Desejo a você uma semana em paz e uma consciência tranquila.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo...

05.07.2015
Pe. Adeilton Santana Nogueira
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