segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Uma saudade imensa bate no peito

Lágrimas que caem, cortam.
Relembram alguém que há muito não vemos.
Chagas profundas e hemorrágicas de cicatrização diabética.

Tempo... nossa consciência, nos força a esquecer
Para ao lembrarmos, o efeito dos curantes ser lento.
Considerações que nos deixam de ter.

Queremos amigos para desabafar
E que não nos opinem impensadamente,
Apenas para darem a entender que se preocupam conosco.
Eles muitas vezes nem atenção nos dão, desviam-na,
Pondo em risco nossa estabilidade, nossa compreensão.

É-nos uma perda alguém que falemos,
E não vemos,
Forçando a nós mesmos imaginarmos...
Quais seriam suas palavras de conforto.

Saudade de amigos,
De um ente querido,
De sugestões sinceras e confiáveis,
De um orelhão que por uma moedinha feche...
Preencha esta abertura... este vago... saudade.
Restando-me, no mundo de hoje (procurar)
(Criar) Uma dupla personalidade
Que ocupe a falta feita por palavras de acalento
... que não chegam.

Dor que o âmago das vísceras de meu ser não mais contém.
Saudade de uma lembrança...
De ser lembrado

Adeilton, 15.09.90

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Amigo Jesus

Amigo Jesus

Amigo Jesus
Deus amigo
Amigo Deus
Deus dos homens
Amigo Deus
Oh, amigo dos homens
Homem porque amigo
Homem Deus
Deus dos homens
Dos homens inspiração
De Deus a ação
Dos homens fé e moção
Do universo a direção
Espírito intimidade
De Deus a profundeza
Artífice do encontro
Reciprocidade e comunhão
Do Filho dois o Pai
Oh, Pai do Filho
Um só de Vós foi feito
E d’Ele feito
Feitos fomos nós
Estação eternal
De Vós saímos e
A Vós pretendemos regressar
Pois a ave aos céus destinada
É no alto que edifica sua morada
Criador dos homens,
Dos homens a criação
Deus igual
Pai, Filho e Espírito Santo
Com comum obra cooperais
Oh, Três iguais
Aos homens inclinados
Inclinai os homens
Despertai-nos, provocai-nos
A filiação nos conquistastes
A irmandade nos presenteastes
A amizade...
FRA+TERNIDADE
Nossa liberdade respeitastes
Adeilton, 09.04.99

sexta-feira, 18 de julho de 2014

SAUDADES

Na minha primeira grande despedida pastoral...

SAUDADES

Deus o sabe,
não vou negar:
gosto daqui sim
e de vocês também,
mas amo a Igreja
e a Deus, amém!
Estou nas mãos do Divino,
não tenho medo!
Posso mergulhar em águas mais profundas,
e irei,
se de fato são mais profundas não sei!
Se ainda não são
nado neste mar,
pesco coração,
ancoro para amar.

Pe. Adeilton, 2009

LAÇOS E RAÍZES

LAÇOS E RAÍZES

D’árvore profundeza escondida;
Nó e firmeza das cordas díspares,
Atração do diviso fragmento,
Apego transado, pedaços amarrados,
Atado, decidido, jamais partido.
Cadeado cujas esquecidas chaves
Por mim não serão lembradas,
Portas escancaradas passageiras.
Fechou-se minha sorte
Em cova cuja morte:
Amizade copas altaneiras,
Volta célere ansiada.
Janela em tênues brisas.
Madrugada orvalhada,
Teu som em mim frisa
Intimidade e apego a despedida exige,
A amizade sempre exclusiva,
As pessoas, porém sempre livre.
Saudades pinceladas
Em mim grandes camadas.
De teu assento a parada;
De meu pouso ninho ligeiro.
O teu olhar matreiro
D’uma piscada sutil
Meu laço de novo se partiu.
Posso partir e vou talvez
Levando tudo o que ficou;
Aqui deixo os meus passos
Mas volto pra conservar meu rastro.
Caminho aberto não se fecha,
Estradas correntes transeuntes,
juntos trilhamos o mesmo fio,
Preso no mesmo lastro,
Guiados pela mesma seta.
Que tu Cristo, nos juntes
Um ao outro ele nos cingiu.
(Adeilton, 17.10.01)

quinta-feira, 17 de julho de 2014

SANGUE

SANGUE

Grande rio de águas caudalosas,
E este para o mar não se dirige.
Invulgares forças são quem o corrige
Nesse pigmento das rubras rosas

Semelhante ao jardim das frondosas
Não o aroma,mas o néctar erige,
O sangue sustém o corpo e o cinge,
Vida que traz essência aquosa.

Ânsia de jorrar tão volumosa
Rega toda a terra onde redige,
Aos invasores a quem não se finge.

Sem espinhos fere vitoriosa.
Não é flor, mas pode ser grandiosa,
Toda vida que o sangue nosso tinge

Adeilton

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Arte


ARTE

Qual fluido que vai e vem,

É inspiração que não se retém,

É folha caindo cálida no chão;

D’árvore desprendida ventos levaram.

É pupila dilatada de um artista,

É alma de um místico;

É folha, espírito, vista,

Poema, música, plástica de um mito.

É sangue que jorra e rega,

É cicatriz aberta e magoada,

Ferida dilacerante e minante.

Vísceras vertendo, artérias estourando,

Olhos, ouvido e boca rasgando

Para o grito ensurdecedor.

Cego, fúnebre e lúgubre,

Ébrio e suave;

Cálido e célere na queda;

No repouso, no choro.

Arte é vida, é parto,

Sorriso, lágrima;

Lágrima sorridente,

Sorriso lacrimejante.

13.06.99

A Intimidade


Achei hoje algo que há muito procurava e pensava estar perdido para sempre. Decidi compartilhar para que nunca mais se perca.

Este poema foi escrito diante do Santíssimo Sacramento, numa quinta-feira de adoração. Na verdade ele foi minha adoração, pois cada verso me vinha ao olhar Jesus sacramentado. O último verso foi mesmo no exato momento da bênção da bênção.


A INTIMIDADE


Ser o que não é

Ver o que não parece

Sentir o que não se percebe

Render-se ao mais frágil

Encantar-se com o pálido

Encontrar-se no disforme

O Tudo no nada

Todos em um só

No fragmento o completo

No pedaço todo inteiro

Num só a comunidade

Dos Três em unidade

Da inimizade és o escândalo

Da amizade a utopia

Ó sonho de comunhão

Ó real fraternidade

És da chegada o destino

E da partida o caminho

Na ira és ternura

E no erro a paz

No pecado consolo

Na tribulação refrigério

Para o contrito retorno

És a imagem do invisível

Perfume da manhã

Fino, cálido, sereno

Na vigília orvalho

No nascer exaltado

Não morrer assiado

Do vir anunciado

Entre os homens elevado

Ó abismo de carinho

Dos homens e mulheres

Suas almas o amante

Seus corpos sua carne

Eco dos meus ouvidos

Murmúrio... silêncio

Música, melodia

Letra, Verbo e harmonia

De minha ginga o bailado

Da minha volta a ciranda

Toque que me firma

Mão que me afaga

Ó presença saudosa

Ó ausência presente

Eternidade capturada

Pulso cordial

Dos santos impulso

Ó sangria dos mártires

Dos virgens a castidade

Ó Cristo consagração

Meu crisol

Da terra a partilha

Na água escassa fértil

Para todos o sol

Do cosmos o movimento

Imagem, semelhança e reflexo

Na injustiça compromisso

Da identidade transparência

No mundo participação

Do próximo fez-me seta

De mim não sou meta

Do Santíssimo a adoração

Com Jesus pus-me a caminho

Com a Trindade em dança

Em cruzes tranças

O fio de minha bênção

(Adeilton, 05.10.01)

PODE SE MEDIR O AMOR?

PODE SE MEDIR O AMOR?

Com quanto amor a Virgem em pano meu bom mestre deitou,
E pela última vez lhe divisou?
Com quanto amor cada saliência da gruta não percebeu,
E todas as suas formas sorveu?

Com quanto amor aproximou-se do leito de repouso sombrio,
Daquele divino e humanamente desfigurado corpanzil?
Com quanto amor não lhe tocou a carne pela derradeira vez,
Antes de depositá-lo no sacrário da esperança, assim o fez?

Em quanto amor nos transformaremos no lugar em que o Verbo se calou?
Em quanto amor pode se converter quem silenciou?
Até onde pode alcanças o silêncio eloquente do Cristo sepultado?

Neste lugar sei que quero ser, onde meu Cristo houvera repousado!
Quero refugiar-me naquele que aqui dentro veio sepultar-se.
Quero chorar com os santos esta saudade e com eles este retorno ansiar.

Adeilton, 1999

domingo, 13 de julho de 2014

O INVERNO CHEGOU

O INVERNO CHEGOU

Como a chuva quais lágrimas abundantes
Do eterno céu que chora, chorava o tempo
Junto à minh’alma em pranto.
O vidro da janela, fosco, ver a terra,
Em lama disforme não me permitira.
Ter que pano nela deslizar,
Fui obrigado a suave passar.
Neste gesto questionei-me se agradaria
Ver como é lá fora em tempos gélidos.
Quantas gotas inocentes se juntam!
Impetuosas ocupam o espaço onde brincava
E só, disforme, destrói solitária.
Assim é o inverno que em casa me aprisiona,
Assim é a chuva que lavar não lava
E ferir me fere.
Lembro a meiga brisa
Quando a face minha refrescava
Do sul rompendo os troncos da floresta
Ao meu lado acompanhava.
Gota a gota me tocava
Deslizante carícia,
... eu sorria.
De repente bravio me empurra o vento
Fera indomável do nada saído.
Banha-me a chuva...
Congela-me o frio...
Aprisiona-me o tempo.
Ó natureza, que mal ti fiz?
Teu amigo ser eu sempre quis.

Adeilton, 1995