Jo 8, 1 – 11
5º Domingo da Quaresma – Ano C
Que coisa, de fato, é o amor? O que
mesmo é amar? Quanto já se disse e quanto já se viveu sem, ao certo, definir o
maior sentido da existência? Viver e amar quase se confundem, sendo que o amor
daria sentido à vida. Mas como encontrá-lo, defini-lo, experimentá-lo? Se ele
existe onde está? Se ele é real quem o pode testemunhar? Se ele é tão
fundamental, como vive quem não o possui? Pode a religião definir o amor?
Todas as histórias de Jesus estão
repletas desse sentimento que Ele exala. Em Jesus, o amor de Deus é revelado. Ele
fala de amor, ensina a amar, cobra amor, ama seus amigos ao ponto de chorar por
eles e ama também os seus inimigos a ponto de perdoá-los mesmo pelo próprio
assassinato. Se a religião pode dizer algo do amor é da mesma forma que todo o
resto da humanidade, a partir de uma experiência concreta em que nos sintamos
amados. Do contrário seria quimera e tirania, sonho e arrogância.
1 Jesus foi para o monte das Oliveiras.
Ah, o monte das Oliveiras! Mesmo para
quem não foi ainda, imagine uma colina alta o suficiente e tão próxima de Jerusalém
que dá para avistar toda a cidade. Jesus estava lá para a Páscoa (Cf. Jo 7, 10)
e já era próximo da meia noite. Ele costumava ir lá para rezar. E na sua
subida, no derradeiro ano, que Ele vai chorar por toda a cidade que mata seus
profetas e não reconhece quem a visita. Quanta coisa não deve ter passado na
cabeça e coração de Jesus nessa floresta onde se escondia na intimidade com o
pai. De certo que escutava algum barulho de festa e vislumbrava luzes de candeeiro
e tochas iluminando a cidade em torno do Templo, bem como pressentia suas
contradições, o comércio e a periferia.
2 De madrugada, voltou de novo ao Templo. Todo
o povo se reuniu em volta dele. Sentando-se, começou a ensiná-los.
Ao que parece, nunca foi honesto
pregar sem rezar antes, ao menos não foi o costume de Jesus, como também era uma
prática sua não ter horário de descanso ou seletiva de lugar. Nós modernizamos
demais a religião e a sintonizamos com o ritmo das fábricas e dos operários.
Jesus trabalha na madrugada, quando se reúnem os que precisam de suas palavras,
eis sua estratégia pastoral. É no frio da noite e na penumbra da luz que o mal
sombreia a moral e a própria fé. Mas o povo de aglomerava por causa das
contendas entre Ele e os fariseus e mestres da Lei no capítulo anterior, o que
não deixariam barato!
3 entretanto, os mestres da Lei e os
fariseus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério. Colocando-a no meio
deles, 4 disseram a Jesus: ‘Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante
adultério.
Como o irmão mais velho do filho
pródigo estes mestres da Lei são caçadores de moralidade. Conhecem com
intimidade os horários e lugares de tais delitos. Sua ciência os beira no mesmo
abismo em que pretendem atirar a ‘adúltera’. Mas como poderia ser uma
prostituta acusada de adultério se quem adultera é o homem casado que se deitou
com ela. A não ser que ela também fosse casada, o que não parece ser o caso. A moral
mosaica culpava ‘profissional do sexo’ mas, nesta cena, omite o cúmplice. Faz da
mulher uma ré do tribunal do apedrejamento, onde fazem de Jesus juiz, dos
mestres da Lei advogados apenas de acusação e do povo espectadores ao sopro de
suas maquinações e manipulações retóricas.
5 Moisés na Lei mandou apedrejar tais
mulheres. Que dizes tu?’ 6 Perguntavam isso para experimentar Jesus e para
terem motivo de o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever com o
dedo no chão.
A questão é esta: testar Jesus e, de
uma só tacada, matar dois coelhos: Jesus e a mulher, restaurar a religião de
Israel e moral, ambos ameaçam essas realidades com suas práticas. Quanta hipocrisia
nesse tribunal de área! Onde a moral é escrita na serventia de quem não se dá
ao respeito, para encobrir as próprias práticas lascivas, também Jesus escreve
no chão, lousa do que não se deveria dizer: os nossos pecados; terra onde se
pisa e onde já pisamos – caminho de todos e passos de qualquer um. Para isto
Ele se rebaixou e de novo se inclina, para tocar os nossos pecados e apagá-los,
não para lembrá-los. Coisa que nem as igrejas, nem nós entendemos ainda.
7 Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se
e disse: ‘Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma
pedra.’
Assim o juiz se manifesta e
sentencia universalmente a todos. Essa expressão nivela a todos, mulher
pecadora e demais presentes. Ele era o único que poderia iniciar aquele apedrejamento.
Que fez, então? Continua a afastar as pedras para dar-Lhe espaço e continuar a escrever
na lousa de areia, onde as palavras não perduram como os pecados também não são
eternos em ninguém, a não ser pela vontade de condenar.
8 E tornando a inclinar-se, continuou a escrever
no chão.
Assim como Jesus cai três vezes na
Via Sacra, três vezes se inclina. Depois de Sua descida do céu ao barro humano,
aquelas duas outras são o peso dos pecados que o deixam menor do que os
pecadores. Ali, ao chão, na lousa de areia, ele ensina a lição do perdão aos
que pecam. Ensina o caminho à religião que quer ser caminho de salvação. Ensina
que o amor está acima do sexo, que o perdão está acima da Lei e que a fé pode
ser a razão da moral, se amor, perdão e fé se unirem no coração dos que pecam e
dos que julgam.
9 E eles, ouvindo o que Jesus falou, foram
saindo um a um, a começar pelos mais velhos, e Jesus ficou sozinho, com a
mulher que estava lá, no meio do povo.
Ela foi o centro das atenções dos
homens e do povo nesta perícope. O apedrejamento dessa mulher talvez Lhe tenha
lembrado a história de Sua mãe Maria que também foi ameaçada de tal delito por
aparecer grávida. Assim não foi sem motivos que ele usasse o precedente dos
pecadores, pois tinha em mente uma vitima inocente – a mãe – e uma pecadora – a
prostituta. Quantas cenas dessas Ele deve ter presenciado! Em ambos os casos as
aparências as condenariam, mas não perante Aquele que conhece os corações, entende
as intenções dos que condenam, reconhece a leviandade das proposições
falaciosas, sua malícia e arquitetura. Leviana era, pois, a palavra e o
testemunho daqueles inquisidores, traídos e denunciados por sua mente que
tentava enganar a memória dos próprios delitos.
10 Então Jesus se levantou e disse: ‘Mulher,
onde estão eles? Ninguém te condenou?
Chega a dar um alívio esta pergunta! Queira
Deus que sumam os que condenam, que se retirem na vergonha de seus próprios
pecados, que também sintam o peso na consciência daquele fardo que querem
imputar em bodes expiatórios, apontando um dedo para os outros enquanto os
demais se voltam para si mesmos. ‘Ninguém’ a condena porque Ele mesmo não a
condenou. Confesso que isto me incomoda, o fato de a misericórdia de Jesus se
expressar tão clara, sem considerar as falhas, e que seja tão diferente do modo
como os cristãos e suas igrejas julgam os faltosos.
11 Ela respondeu: ‘Ninguém, Senhor.’ Então Jesus
lhe disse:’Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques
mais.’
É tácito que Jesus preferiu a lousa
de areia à tribuna judicial. Seu ensinamento está repleto de misericórdia, pois,
com amor, deixar na mão da pecadora a atitude de mudança. Coagir seria forçar
uma moral de atitudes superficial e aparente que não valoriza o fiel, apenas
mascara uma piedade fluida como as gotas das velas que queimas em seus altares
ou suas roupas que se troca como trocam de denominações.
Tantas frases de Jesus marcaram a
nossa formação! Essa “Eu também não te condeno”, embora não deva ser lida sem o
seu fim “e de agora em diante não peques mais”, é a frase que, acredito eu,
todos gostaríamos de ouvir, sobretudo quando temos quem nos condene. Todavia,
caro leitor, basta saber como Jesus agiria se estivesse no lugar de nossos
algozes; assim sabemos quanto distam ou se aproximam dEle, os que dizem segui-Lo.
Desejo uma vida de perdão
incondicional, pois Jesus perdoa sempre e a todos. Tenha uma semana abençoada e
reze por mim!
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo...
13.03.2016
Pe.
Adeilton Santana Nogueira
Sábias palavras,Padre! Ninguém melhor do que Jesus pra nos ilustrar o verdadeiro sentido da palavra Amor!
ResponderExcluirSábias palavras,Padre! Ninguém melhor do que Jesus pra nos ilustrar o verdadeiro sentido da palavra Amor!
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