domingo, 13 de setembro de 2015

QUEM SOU EU?

Mc 8, 27 – 35

Esta é uma das perguntas mais enigmáticas que alguém pode fazer a si mesmo ou a outrem. ‘Quem sou eu’ é uma identidade que nem mesmo a própria pessoa poderia afirmar ao certo. O ‘si mesmo’ é uma realidade em construção, onde a experiência e a essência de quem é exigirá uma honestidade crucial e pessoal. Ademais, fazer esta pergunta a alguém traz outras reflexões.

Não raro nos preocupamos com o que as pessoas pensam de nós. Alguns ainda transferem o conceito da própria vida ao que os outros dizem. Damos tanto valor à opinião alheia que quase chegamos a nos identificar com ela. Obviamente a pergunta de Jesus não se trata de uma pesquisa de opinião pública. Seu interesse não está na Sua boa imagem ou reputação, pois já não era boa! Então, o que mesmo Ele quer saber da publicidade de sua pessoa?

27 Jesus partiu com os discípulos para os povoados de Cesareia de Filipe. No caminho perguntou aos discípulos: “Quem dizem os homens que eu sou?”

Qual a necessidade em primeiro fazer os seus discípulos relatarem o que escutam dos outros? Qual importância tem uma opinião precipitada e pouco realista sobre Sua pessoa? Por que querer saber o que dizem a Seu respeito se sabe que não falam do que conhecem, mas do que imaginam. São os anseios e fantasias do povo que transferem sobre Jesus que vão se confrontar e depurar com quem realmente Ele é. Esta descoberta será muito tardia para a grande parte dos seus discípulos.

28 Eles responderam: “Alguns dizem que tu és João Batista; outros, que és Elias; outros, ainda, que és um dos profetas”.

De certo modo o povo não estava errado em arriscar essas opiniões a respeito de Jesus. Diversas profecias antigas apontavam para algo parecido. Eles estavam reproduzindo aquilo que lhes fora ensinado pela própria religião, de que antes do Messias viria um precursor, alguém que Lhe prepararia o caminho. Ainda hoje os judeus, na Páscoa, reservam a cadeira do profeta Elias esperando que ele volte para anunciar a chegada do Messias.

Quantos de nós, fiéis batizados, apenas reproduzimos a catequese que recebemos? Apesar disso, frequentemente nos deparamos sem saber, ao certo, expressar o que cremos, mesmo tendo recebido por tradição de longas datas. Muitos de nós não sabem dizer o por quê de sua fé. Acham, inclusive, que isto é ter crença firme, sem se darem conta de sua pouca fundamentação. Não se demoram e traem seus conceitos e, confusos, aderem a outros mais novos e mais convincentes. Não estão prontos para dar razões de sua fé nem a si mesmos, nem aos dúbios e tíbios que lhes pedem explicações.

29 Então Ele perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “Tu és o Messias”.

Uma pessoa, comunidade ou igreja, que não seja capaz de afirmar, sem sombra de dúvida, o básico de sua fé, pode ter certeza de uma coisa: será traída pela própria crença. Não por ela mesma, mas por sua inconsistência que se dilui diante das intempéries da vida. Não apenas os seus questionamentos, mas a rigidez das situações às quais somos acometidos cotidianamente e que nos vão enfraquecendo. Como diz o ditado: “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura!” Chegará um momento em que não aguentaremos mais suportar tanta dor, e as perguntas se lançarão ferozmente a Deus, sobre sua identidade, sobre a sua existência.

Estas perguntas de Jesus, e suas respostas, são uma catequese muito bem planejada. ‘O que dizem e o que tu dizes de mim’ são a trajetória da fé e sua adesão. A prova de uma descoberta tão pessoal quanto capaz de descrever, por conta própria, um conceito que não pode ser ‘dos outros’, mas uma descoberta tão evidente a ponto de ser expressa. Entendi, sei, conheço, experimento e agora posso transmitir, ensinar, contar das coisas que aprendi com Ele. Uma lição que se não for repassada não foi bem compreendida, logo será esquecida, não suportará os dilemas da razão. A nova pergunta que se impõe é: você seria capaz de responder à indagação de Jesus? Então diga: Quem é Jesus para você?

30 Jesus proibiu-lhes severamente de falar a alguém a seu respeito. 31 Em seguida, começou a ensiná-los, dizendo que o filho do homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da lei; devia ser morto e ressuscitar de três dias.

Sobre este silêncio messiânico já falamos na meditação anterior. Portanto, continuemos, pois, parece-me que desta resposta ‘quem é Jesus para mim’ dependerá toda a trajetória da fé do crente. Veja esse programa de sofrimento, rejeição e morte. Quem faz um projeto desses para a sua vida? Quem se dispõe em seguir alguém numa armadilha dessas? Hoje em dia alguns pregadores inflamados até criticam o Apóstolo Pedro por seus medos e falsa proteção a Jesus, mas só por Jesus o repreendeu. Será que esses ‘evangelizadores’ já deram a cara a bater ou se sacrificaram por seus seguidores? Sei e conheço muitos autênticos ‘Cristos’, mas também conheço falsos profetas que não estão dispostos a perder nenhuma de suas vantagens. Novos burgueses, mais identificados com os anciãos, sacerdotes e doutores da lei daquele tempo.

32 Ele dizia isto abertamente. Então Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo. 33 Jesus voltou-se, olhou para os discípulos e repreendeu a Pedro, dizendo: “Vai para longe de mim, Satanás! Tu não pensas como Deus e sim como os homens”.

Algumas pessoas já me comentaram sobre alguma possível severidade nas palavras e aparente juízo moral em algumas afirmações nestas meditações. Ora, caro leitor, outro dia tentei esclarecer. Caso me ache duro, releia as palavras de Jesus acima. Nem de longe chego aos Seus pés; ainda que nEle me espelho! Entendo que não estamos acostumados ou nos privaram dessa face de Cristo, em que Ele é mais contundente. Não vemos Jesus ser condescendente com nenhum de seus seguidores, nem com a própria mãe. As suas palavras, mesmo que nos pareçam duras, jamais se revestiriam de maldade, assim como pretendem também as minhas.

Quando Jesus chama Herodes de raposa, Pedro de Satanás, apresenta outras ‘Suas mães e irmãos’ ou se refere a Maria por mulher, Ele não está sendo intolerante, como se faltasse paciência ao cordeiro imolado. Entretanto, Ele está apontando para outras realidades em todos esses casos. Ele não está xingando ou desprezando. Ele está cavando fundo a raiz dos sentidos em cada uma dessas expressões: A natureza ardilosa e selvagem do líder de seu povo; o princípio mais vil que ameaça a Igreja, o próprio diabo; a identidade de todo discípulo semelhante à de Sua mãe, servil e obediente; a recapitulação de Eva em Maria na restauração das bodas de Caná, onde a água vira vinho que mais tarde se vai tornar sangue.


34 Então chamou a multidão com os seus discípulos e disse: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. 35 Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do evangelho vai salvá-la”.

Ter em si os pensamentos de Deus! Que altura, que largura, que profundidade! Mas não foi isto que Jesus fez: renunciar à sua condição divida e tomar a cruz, dar a vida livremente com poder de tomá-la de volta? Agora me lembro que, em maio de 2014, quando visitava a igreja Matriz de minha terra natal, encontrei uma amiga em longa oração diante de Jesus crucificado. Cumprimentei-a e logo ela me pediu para sentar ao seu lado. De imediato, perguntou-me: “Padre, como acreditar que são inocentes os que foram rejeitados pelos próprios irmãos de caminhada?” Pedi que olhasse novamente para Jesus crucificado e lhe repeti a pergunta. Depois de alguns minutos de silêncio ela me fitou sem palavras.

Deus abençoe a sua semana! Tenha um encontro pessoal com Jesus! E que você possa transmitir o quanto Ele é real em sua vida.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo...
Tobias Barreto – SE, 12.09.2015

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