Mc 8, 27 – 35
Esta é uma das perguntas mais enigmáticas
que alguém pode fazer a si mesmo ou a outrem. ‘Quem sou eu’ é uma identidade
que nem mesmo a própria pessoa poderia afirmar ao certo. O ‘si mesmo’ é uma
realidade em construção, onde a experiência e a essência de quem é exigirá uma
honestidade crucial e pessoal. Ademais, fazer esta pergunta a alguém traz
outras reflexões.
Não raro nos preocupamos com o que as
pessoas pensam de nós. Alguns ainda transferem o conceito da própria vida ao
que os outros dizem. Damos tanto valor à opinião alheia que quase chegamos a nos
identificar com ela. Obviamente a pergunta de Jesus não se trata de uma
pesquisa de opinião pública. Seu interesse não está na Sua boa imagem ou
reputação, pois já não era boa! Então, o que mesmo Ele quer saber da
publicidade de sua pessoa?
27 Jesus partiu com os discípulos para os
povoados de Cesareia de Filipe. No caminho perguntou aos discípulos: “Quem
dizem os homens que eu sou?”
Qual a necessidade em primeiro fazer
os seus discípulos relatarem o que escutam dos outros? Qual importância tem uma
opinião precipitada e pouco realista sobre Sua pessoa? Por que querer saber o
que dizem a Seu respeito se sabe que não falam do que conhecem, mas do que imaginam.
São os anseios e fantasias do povo que transferem sobre Jesus que vão se
confrontar e depurar com quem realmente Ele é. Esta descoberta será muito
tardia para a grande parte dos seus discípulos.
28 Eles responderam: “Alguns dizem que tu és
João Batista; outros, que és Elias; outros, ainda, que és um dos profetas”.
De certo modo o povo não estava
errado em arriscar essas opiniões a respeito de Jesus. Diversas profecias
antigas apontavam para algo parecido. Eles estavam reproduzindo aquilo que lhes
fora ensinado pela própria religião, de que antes do Messias viria um
precursor, alguém que Lhe prepararia o caminho. Ainda hoje os judeus, na
Páscoa, reservam a cadeira do profeta Elias esperando que ele volte para
anunciar a chegada do Messias.
Quantos de nós, fiéis batizados,
apenas reproduzimos a catequese que recebemos? Apesar disso, frequentemente nos
deparamos sem saber, ao certo, expressar o que cremos, mesmo tendo recebido por
tradição de longas datas. Muitos de nós não sabem dizer o por quê de sua fé.
Acham, inclusive, que isto é ter crença firme, sem se darem conta de sua pouca
fundamentação. Não se demoram e traem seus conceitos e, confusos, aderem a
outros mais novos e mais convincentes. Não estão prontos para dar razões de sua
fé nem a si mesmos, nem aos dúbios e tíbios que lhes pedem explicações.
29 Então Ele perguntou: “E vós, quem dizeis
que eu sou?” Pedro respondeu: “Tu és o Messias”.
Uma pessoa, comunidade ou igreja,
que não seja capaz de afirmar, sem sombra de dúvida, o básico de sua fé, pode
ter certeza de uma coisa: será traída pela própria crença. Não por ela mesma,
mas por sua inconsistência que se dilui diante das intempéries da vida. Não apenas
os seus questionamentos, mas a rigidez das situações às quais somos acometidos cotidianamente
e que nos vão enfraquecendo. Como diz o ditado: “Água mole em pedra dura, tanto
bate até que fura!” Chegará um momento em que não aguentaremos mais suportar
tanta dor, e as perguntas se lançarão ferozmente a Deus, sobre sua identidade,
sobre a sua existência.
Estas perguntas de Jesus, e suas
respostas, são uma catequese muito bem planejada. ‘O que dizem e o que tu dizes
de mim’ são a trajetória da fé e sua adesão. A prova de uma descoberta tão
pessoal quanto capaz de descrever, por conta própria, um conceito que não pode
ser ‘dos outros’, mas uma descoberta tão evidente a ponto de ser expressa.
Entendi, sei, conheço, experimento e agora posso transmitir, ensinar, contar
das coisas que aprendi com Ele. Uma lição que se não for repassada não foi bem
compreendida, logo será esquecida, não suportará os dilemas da razão. A nova
pergunta que se impõe é: você seria capaz de responder à indagação de Jesus? Então
diga: Quem é Jesus para você?
30 Jesus proibiu-lhes severamente de falar a
alguém a seu respeito. 31 Em seguida, começou a ensiná-los, dizendo que o filho
do homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos
sacerdotes e doutores da lei; devia ser morto e ressuscitar de três dias.
Sobre este silêncio messiânico já
falamos na meditação anterior. Portanto, continuemos, pois, parece-me que desta
resposta ‘quem é Jesus para mim’ dependerá toda a trajetória da fé do crente. Veja
esse programa de sofrimento, rejeição e morte. Quem faz um projeto desses para
a sua vida? Quem se dispõe em seguir alguém numa armadilha dessas? Hoje em dia
alguns pregadores inflamados até criticam o Apóstolo Pedro por seus medos e
falsa proteção a Jesus, mas só por Jesus o repreendeu. Será que esses ‘evangelizadores’
já deram a cara a bater ou se sacrificaram por seus seguidores? Sei e conheço
muitos autênticos ‘Cristos’, mas também conheço falsos profetas que não estão
dispostos a perder nenhuma de suas vantagens. Novos burgueses, mais identificados
com os anciãos, sacerdotes e doutores da lei daquele tempo.
32 Ele dizia isto abertamente. Então Pedro
tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo. 33 Jesus voltou-se, olhou para os
discípulos e repreendeu a Pedro, dizendo: “Vai para longe de mim, Satanás! Tu
não pensas como Deus e sim como os homens”.
Algumas pessoas já me comentaram
sobre alguma possível severidade nas palavras e aparente juízo moral em algumas
afirmações nestas meditações. Ora, caro leitor, outro dia tentei esclarecer.
Caso me ache duro, releia as palavras de Jesus acima. Nem de longe chego aos
Seus pés; ainda que nEle me espelho! Entendo que não estamos acostumados ou nos
privaram dessa face de Cristo, em que Ele é mais contundente. Não vemos Jesus
ser condescendente com nenhum de seus seguidores, nem com a própria mãe. As
suas palavras, mesmo que nos pareçam duras, jamais se revestiriam de maldade,
assim como pretendem também as minhas.
Quando Jesus chama Herodes de
raposa, Pedro de Satanás, apresenta outras ‘Suas mães e irmãos’ ou se refere a
Maria por mulher, Ele não está sendo intolerante, como se faltasse paciência ao
cordeiro imolado. Entretanto, Ele está apontando para outras realidades em
todos esses casos. Ele não está xingando ou desprezando. Ele está cavando fundo
a raiz dos sentidos em cada uma dessas expressões: A natureza ardilosa e
selvagem do líder de seu povo; o princípio mais vil que ameaça a Igreja, o
próprio diabo; a identidade de todo discípulo semelhante à de Sua mãe, servil e
obediente; a recapitulação de Eva em Maria na restauração das bodas de Caná,
onde a água vira vinho que mais tarde se vai tornar sangue.
34 Então chamou a multidão com os seus
discípulos e disse: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua
cruz e me siga. 35 Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; mas quem
perder a sua vida por causa de mim e do evangelho vai salvá-la”.
Ter em si os pensamentos de Deus!
Que altura, que largura, que profundidade! Mas não foi isto que Jesus fez:
renunciar à sua condição divida e tomar a cruz, dar a vida livremente com poder
de tomá-la de volta? Agora me lembro que, em maio de 2014, quando visitava a
igreja Matriz de minha terra natal, encontrei uma amiga em longa oração diante
de Jesus crucificado. Cumprimentei-a e logo ela me pediu para sentar ao seu
lado. De imediato, perguntou-me: “Padre, como acreditar que são inocentes os
que foram rejeitados pelos próprios irmãos de caminhada?” Pedi que olhasse novamente
para Jesus crucificado e lhe repeti a pergunta. Depois de alguns minutos de
silêncio ela me fitou sem palavras.
Deus abençoe a sua semana! Tenha um encontro
pessoal com Jesus! E que você possa transmitir o quanto Ele é real em sua vida.
Glória ao Pai e ao Filho e ao
Espírito Santo...
Tobias
Barreto – SE, 12.09.2015
Pe.
Adeilton Santana Nogueira
Perfeito ! Olhar a cruz!
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