domingo, 1 de novembro de 2015

AQUÉM DOS ALTARES

Na Solenidade de Todos os Santos
Mt 5, 1 – 12a

Para muitos, santo é aquele tipo de pessoa que vive isolado do mundo, ainda que more nele, cumprindo todos os preceitos religiosos; um exemplo de pessoa sobre quem projetamos todas as nossas maiores expectativas. Alguém que jamais esperamos que erre. Um abençoado a quem recorrermos que reze por nós quando precisamos. Contudo, não parece ser este o modelo de santidade pregado por Jesus.

A cada época e local surgem os santos próprios na história para dar continuidade ao ensinamento de seus diretores espirituais. Há diversidade de santos tanta quantas forem diversas as circunstâncias da vida e do lugar em que habitam. Nota curiosa esta de que, não só as mazelas, mas as situações de cada tempo produzam no fiel uma resposta precisa de sua espiritualidade ao mundo.

Ao longo de todas as épocas, cristãs ou não, mesmo antes da Bíblia, quando ainda nem pensavam ou precisaram escrevê-la, sempre houve santos e santas. Estes são elencados por Jesus como sendo os pobres, os aflitos, os mansos, os injustiçados, os misericordiosos, os puros, os pacíficos, os perseguidos e os difamados.

Quer saber se você é santo ou está no caminho da santidade evangélica? Procure em qual dessas classes você se encontra hoje. Alguns de nós se preocupam mais com o mérito da questão do que com a honra da conquista. Colocam “o carro a diante dos bois”. Estão mais interessados nos resultados do que nos meios para conquistá-los.

Não raro encontramos fieis que querem logo o Reino dos Céus e o promovem a qualquer custo, como se competissem na sociedade. Há outros que querem ser consolados instantaneamente, pois estão convencidos de que o seu sofrimento é maior do que o dos outros; querem também possuir a terra antes de ressuscitarem, pois seu pragmatismo é tão comercial que acumulam muitos bens. Alguns querem ser saciados pois a sua insegurança advoga em causa própria e fazem justiça com as próprias mãos; pregam o “venha a nós o vosso reino” mas esquecem do ‘seja feita a Vossa vontade”. Ainda mais esperam misericórdia porque sabem que já machucaram muitas pessoas. Eles dizem ver Deus, quando apenas projetam seus devaneios cegos. Querem ser reconhecidos como filhos de Deus, uma vez que aparecerem mais do o próprio Jesus.

Quantos desses aceitariam ser perseguidos por causa da justiça ou tolerariam mentiras contra si, por causa de Jesus? O que é mesmo ser santo nos dias de hoje? E como reconhecer um desses escolhidos? Como distinguir os abençoados entre os bem sucedidos e os fracassados? Como reconhecer um charlatão mentiroso e um autêntico discípulo de Jesus? Penso que o santo se parecerá mais com o seus guia espiritual do que consigo mesmo, inclusive.

Os caminhos já foram indicados. Não quero aqui inaugurar outra estrada. As setas apontam para a pobreza, aflição, mansidão, injustiças, misericórdia, pureza, pacificidade, perseguição e difamação. Eu sei que não é uma trilha fácil de se enveredar. Nenhuma delas é atrativa, creio que nunca foram. Jesus as experimentou e conhecemos o seu fim. Porém urge que as religiões repensem suas pregações e aonde querem chegar com elas. Revejam suas decisões e posturas, desde os seus ministros aos seus adeptos, pois, independente dos altares, os santos que caminham são cada vez menos vistos entre nós, apesar do crescimento do número de fieis.

Desejo-lhe a coragem necessária para a santidade aquém dos altares, sem a qual jamais haveriam santos.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo...

Barra dos Coqueiros – SE, 01.11.2015
Pe. Adeilton Santana Nogueira

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