Mc
4, 35, 41
Não apenas o vento e o mar, não apenas a natureza, embora siga uma ordem, mesmo que não raro se
mostre arredia e violenta, mas até os demônios o obedecem. O ensinamento de Jesus neste
quarto capítulo do evangelho de São Marcos não está na tempestade, mas com os seus
seguidores, incapazes de entender uma parábola e agora medrosos e incrédulos.
A preocupação de S. Marcos evangelista é
ensinar quem é Jesus, segundo os exegetas. Dizer quem é alguém não é tarefa
fácil nem para a própria pessoa quando fala de si. São as atitudes, em tese, que
definem uma pessoa. Ao menos para quem convive com ela. Sobre si mesma sempre será
uma descoberta. Daí porque o mistério de cada um permanecerá uma busca, cujo
encontro diminui as incertezas. Se lêssemos este evangelista procurando as
afirmações de ‘quem é Jesus’ faríamos uma descoberta surpreendente. Aconselho
que o faça.
35.À
tarde daquele dia, disse-lhes: Passemos para o outro lado.
36.Deixando
o povo, levaram-no consigo na barca, assim como ele estava. Outras embarcações
o escoltavam.
Desta vez Jesus decide atravessar o mar
com os discípulos. Poderíamos imaginar que ele avistasse o mal tempo ou o
pressentisse. Porém, não há registro de temor prévio nos navegantes, que
conheciam o mar da Galiléia, razoavelmente pequeno, de 19 km de cumprimento e 13
km de largura. E se ele soubesse o que viria pela frente e mesmo
assim quisesse navegar mar bravio adentro? O seu destemor poderia ser
desacreditado ou desestimulado? Quando Jesus decidiu subir a Jerusalém vimos Pedro
atravessar na sua frente e tentar dissuadi-Lo: “Mestre, que isto não te
aconteça!” Porém Jesus repreende a sua possível covardia dizendo: “Saia da
minha frente, Satanás!” (Mt 16, 21-23)
37.Nisto
surgiu uma grande tormenta e lançava as ondas dentro da barca, de modo que ela
já se enchia de água.
Alguém o seguiria sabendo pelo que
passaria em alto mar? É de se perguntar, você preferia ficar na calmaria da
praia ou subir na barca com Jesus, para enfrentar uma tempestade em alto mar? Não
tenha pressa em responder! Reflita bem, pois há algumas atitudes entre os
cristãos que não foram aprovadas por Jesus. A exemplo dessas dúvidas e covardias,
citadas acima. Embora elas estejam no coração dos discípulos, e até mesmo dos
apóstolos, portanto são ‘de’ cristãos, elas não são cristãs. Não há maldade em
dizer que isto ocorre desde a Era das primeiras comunidades, e quisesse Deus que
tivessem passado com o tempo, pena que isto não acorreu.
40.Ele
disse-lhes: Como sois medrosos! Ainda não tendes fé?
O medo mascarado numa confiança que duraria
até a próxima tempestade traz de volta o desespero do ‘salve-se quem puder!’Mesmo
em pescadores experientes, tanto fora quanto dentro da barca. Não foi somente a
fé de que Jesus estava presente, mas foi a fé em si mesmos que faltou em seus
seguidores. Eles vão incorrer em outra falta grave, a saber, a hipocrisia. Pescadores
que têm medo do mar e de navegar. Não conhecem os ventos e não sabem contornar
as ondas. Navegantes descrentes de seu timoneiro e capitão. São tripulantes à
deriva, passageiros náufragos em barco desgovernado.
Se não acredita em quem guia a
embarcação ou se quem toma o leme não sabe velejar, desça. O seu lugar é na
praia enxuta, porque “quem pega no ardo e olha para trás não é digno de mim”, (Lc
9, 62) disse Jesus. Não dá para guiar
uma embarcação em meio a uma tempestade pensando em si mesmo, em seguranças
próprias, e gritando ‘salvem-se quem puder!’ esquecendo-se dos demais
passageiros. Isto é covardia e medo desesperados, e, no caso em questão,
descrentes. Vale lembrar que “sem fé é impossível agradar a Deus”. (Hb 11, 6)
A barca é uma figura da Igreja de
Cristo. No entanto, do que vimos acima, podemos intuir que sem fé a igreja seria
uma instituição da pior qualidade, cujo objetivo seria apenas a promoção
pessoal e o enriquecimento de seus cofres; onde as suas lideranças apresentariam
uma marca e venderiam um produto alucinante, que eles não consomem; ideologizando
ideias que não convencem, mas manipulam e alienam seus correligionários. Sem fé,
envergonharia até as demais instituições, pela falta de coerência entre seus
propósitos e práticas, entre seus membros e dirigentes.
38.Jesus
achava-se na popa, dormindo sobre um travesseiro. Eles acordaram-no e
disseram-lhe: Mestre, não te importa que pereçamos?
Outra indagação que sempre se faz é por
que Jesus dormia em meio a tanto desespero. Como pode alguém dormir no agito da
barca e das pessoas, em meio à confusão que se formou em torno das
inseguranças? É possível que alguém tivesse comentado da sonolência do Mestre,
talvez até falado mal! Outros teriam hesitado em despertá-lo. Outros por medo
ou confiança, para que pulassem juntos ou para que desse uma alternativa,
tomaram uma atitude. Aparentemente a mais correta. Aquela que todos
aconselhamos a quem entra numa tormenta: fale com Jesus! Só que neste caso ele
não gostou. Não parece mais ter sido a opção correta.
39.E
ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Silêncio! Cala-te! E
cessou o vento e seguiu-se grande bonança.
Então qual teria sido a alternativa
mais coerente naquela hora, barca em alto mar, mar bravio, em meio a uma
tempestade agitando barco e pescadores, já que chamar o mestre não era a saída,
nem tampouco ficar na tempestade? Lógico! O que você me diz? Arriscarei uma solução. E não diga que é uma
solução fácil ou exclusividade de padres! Digo por experiência própria,
inclusive.
Se Jesus é o modelo do homem perfeito e
a figura do Deus invisível (Col 1, 15), se nós é que lhe somos cópia, se a vida
cristã é ser outro cristo (Cf. At 11, 26), como dizem por aí também afirmamos keep Calm and carry on (inglês= fique calmo
e continue em frente). Parece-nos que esta é a postura mais própria e ao
mesmo tempo inesperada diante da tribulação que nos prova. No entanto, tentamos
resolver à ‘queima roupa’, no ‘quente da hora’, com as ‘própria forças’, para
não ‘levar desaforo pra casa’, tudo isso tem cegado até mesmo os cristãos.
41.Eles
ficaram penetrados de grande temor e cochichavam entre si: Quem é este, a quem
até o vento e o mar obedecem?
Quem tem fé crê em algo além da
natureza das coisas, além do momento presente, inclusive além dos seres humanos
e seus problemas ou esquemas. Relaxe com Jesus, encoste-se a Ele e espere passar!
Só não se transforme também numa tempestade maior do que a que o acomete. Como dizem
‘não faça uma tempestade num copo d’água’. Não precisamos achar que o nosso
problema é maior do que ele se apresenta. E se acha que Jesus dorme enquanto
você tonteia no balanço das ondas, não pense que ele te abandonou. Creia que é
porque essa tempestade é incapaz de te afundar. Ele está contigo! E eu te desejo
uma semana abençoada!
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito
Santo...
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