MARCOS 10, 2 – 16
2 Alguns fariseus se aproximaram de Jesus. Para
pô-lo à prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua
mulher.
Pessoas falsificadas não aprendem
nunca! São tão oscilantes que acabam caindo em suas próprias armadilhas, como
veremos a seguir. Alguns demoram arquitetando as suas ciladas, outros as tramam
em comum acordo com um grupo de hipócritas que queira justificar suas condutas,
seja de religião, como neste caso, ou em tantos outros no cotidiano da nossa
vida. Acredito que ninguém esteja livre de se deparar com fariseus que se
aproximem apenas para nos por à prova. Como sair dessas arapucas?
3 Jesus perguntou: “O que Moisés vos
ordenou?” 4 os fariseus responderam: “Moisés permitiu escrever uma certidão de
divórcio e despedi-la”. 5 Jesus então disse: “Foi por causa da dureza do vosso
coração que Moisés vos escreveu este mandamento.
Vejamos
algumas entrelinhas. Jesus devolve a pergunta porque sabe que eles conhecem a
resposta. Eles sabem o que estão fazendo, ou pelo menos, tem condições de se
perguntarem em suas próprias regras legalistas. Além de denunciar a ignorância
da interpretação de suas próprias ações, Jesus denuncia também a dureza do
coração deles. Mas há algo curioso: uma lei divina foi decretada a capricho de
corações endurecidos. Ela será revogada!
6 No
entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. 7 Por isso, o
homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. 8 Assim, já não
são dois, mas uma só carne.
Não dá a entender que Jesus retira
essa licença mosaica? Há muita Lei, mesmo eclesial, que pode ser revista. Para
isto Jesus deixou o “poder das chaves”. Se se pode ligar para o bem e desligar
do mal, porque não abrir ainda mais essas portas? O que já vem acontecendo,
porém a passos lentos! A primeira atitude ainda é um impulso corretivo e de castigo,
como satisfação social, a exemplo daquele julgamento que pesava mais para as
mulheres ‘adúlteras’; sentença nem sempre equiparada às penas dos verdadeiros adúlteros
no evangelho. Esta é uma prática muito mais comum, pois não é de hoje que se
penalizam alguns para se justificar e encobrir a outros.
9 Portanto, o que Deus
uniu, o homem não separe!”
Esta é uma das
frases mais belas e conhecidas de Jesus sobre a união conjugal. Mas se lhe acrescentássemos
a citação de Paulo: “Pois eu tenho a certeza de que
nada pode nos separar do amor de Deus: nem a morte, nem a vida; nem os anjos,
nem outras autoridades ou poderes celestiais; nem o presente, nem o futuro; nem o mundo lá de cima, nem o
mundo lá de baixo. Em todo o Universo não há nada que possa nos separar do amor
de Deus, que é nosso por meio de Cristo Jesus, o nosso Senhor.” (Rm 8, 38 – 39)
A pergunta é: o que pode mesmo nos separar de Deus? O que Deus realmente uniu e
que o homem ou coisa alguma poderá desligar jamais é o Seu amor por nós.
10 Em casa, os discípulos fizeram,
novamente, perguntas sobre o mesmo assunto. 11 Jesus respondeu: “Quem se
divorciar de sua mulher e casar com outra, cometerá adultério contra a
primeira. 12 E se a mulher se divorciar de seu marido e casar com outro,
cometerá adultério”.
Vê então
por que o desafeto trai a própria essência do amor? Trai o amor, trai Deus.
Qualquer traição fere o amor que sentimos por alguém, ainda que alguém não se
importe em sofrer por amor; goste a ponto de se perder para não perder. Seja no
casal, seja na amizade, a questão não é a defesa de quem foi traído, mas a
autenticidade do amor de quem trai. O problema é quando chega até ao adultério,
desde quando ele foi sendo possibilitado e entrou na vida de um casal. Quanto
desamor em construção!
Veja
também o quanto a frieza endurece o coração de uma homem e de uma mulher, a
ponto de cristalizar os sentimentos de outrora e caírem como granito em suas
cabeças. A doçura do romantismo de namorados não existe mais, senão nas
expressões da falsidade e das máscaras em que se revestiram. Há mesmo casos em
que a convivência é insuportável e que, para evitar dissabores inda maiores ou
piores, a separação de corpos é a opção mais imediata. Em si, isto já é a morte
que separa o que Deus uniu.
A
declaração da nulidade matrimonial é uma ação eclesial, que se justifica quando
se constata pelo próprio casal, e pela igreja que os enlaçou sacramentalmente,
que não houve materialidade naquela união, ou seja, nunca deveriam ter se
casado, pois não queriam a essência mesma do casamento, a saber: fidelidade,
‘até que a morte os separe’. Não é isto que esperamos, seja de quem for, se
alguém decide entrar em nossa vida?
13 Depois disso, traziam crianças para que
Jesus as tocasse. Mas os discípulos as repreendiam. 14 Vendo isso, Jesus se
aborreceu e disse: “Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o
Reino de Deus é dos que são como elas. 15 Em verdade vos digo: quem não receber
o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele”. 16 Ele abraçava as
crianças e as abençoava, impondo-lhes as mãos.
Alguns discípulos não se cansam de
‘proteger’ Jesus das crianças e, dos doentes e do povo em geral. É hilário,
portanto trágico, o quanto os mais próximos são tão cegos. Uma vez uma
professora de catequese me disse que não se deve olhar demasiado para a luz, pois
ela encandeia; ela deve ser projetada sobre a escuridão. É lâmpada para os pés
e luz para o caminho. (Cf. Sl 119, 105). A luz que é Jesus, Ele a declara
também diante de uma cena de ‘flagrante adultério’, com a mulher pecadora; queriam
apedrejá-la quando o adultério era o pecado do homem que se deitara com ela.
(Cf. Jo 8, 12) Se quem O segue anda nas trevas talvez não lhe falte luz, mas a
esteja usando em sua própria direção, está encandeado, mais preocupado em iluminar-se,
flashs e holofotes, ufanando-se em ser ‘discípulo’ de Cristo muito mais do que
em aproximar dEle as pessoas a sua volta.
Já disse o maior profeta entre os
nascidos de mulher: “É necessário que Cristo cresça e que eu diminua” (Jo 3, 38),
quem sabe este também seja um caminho para nos voltarmos ao nosso semelhante, e
para os casas reverem as suas promessas matrimoniais, quando disseram em primeira
pessoa: “Eu (nome), recebo-te (nome), como
meu/minha esposo/esposa e te prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te, na
alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida.
São Paulo
no ajuda nesta colocação: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por
humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada
um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros.
De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus…”
(Fl 2, 3 – 5) Paulo fala ainda diretamente aos esposos para amarem as suas
esposas como Cristo amou a si mesmo e a Igreja, e se entregou por ela (Cf. Ef
5, 25). Amor igual deve sentir a igreja e a esposa pelo seu marido.
Mas são inúmeras
as máximas da boa convivência, como as regra de ouro de Jesus: “Não faça aos
outros o que não gostaria que fizessem contigo (Tb 4, 15; Cf. Mt 7, 12) e o
conselho do evangelista São João: “Filhinhos, não amemos com palavras nem com a
língua, mas com ações e em verdade” (1João 3,18). Pois, se considerarmos
o outro maior do que nós, sem nos perdermos num aniquilamento doentio e masoquista,
estaremos seguindo um conselho evangélico que pode antecipar-se no fel de uma
traição fétida cujo odor desfalece a mais bela flor e afasta qualquer um, mesmo
quem já amou.
Seja no namoro ou na amizade, seja
fiel pelo amor de Deus! E tenha uma semana abençoada!
Glória ao Pai e ao Filho e ao
Espírito Santo...
Barra dos Coqueiros – SE, 03.10.2015
Pe.
Adeilton Santana Nogueira
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