Agora não está tão difícil de compreender o que significa a existência para o nosso filósofo. A
existência não é apenas a faculdade racional de perceber-se, de tomar
consciência de que e de quem é, mas diz respeito à própria essência humana. Vale
repetir o que dissemos acima: ‘Ser-Aí se torna existir’. O homem se define a si
mesmo enquanto faz a experiência do conhecimento dos seres. ‘Existir é
interpretar o mundo e a si mesmo’.
Todavia, Heidegger
ainda nos dá uma boa definição ao conceito de existência na introdução à sua
preleção Que é metafísica? (1929),
quando diz: “A palavra existência designa um modo de ser e, sem dúvida, do ser
daquele ente que está aberto para a abertura do ser, na qual se situa, enquanto
a sustenta” (p. 59). Ao que continua a seguir: “Somente o homem existe. O
rochedo é, mas não existe. A arvore é, mas não existe. O anjo é, mas não
existe. Deus é, mas não existe”. Considere o leitor os conceitos anteriores de
Ser e Ente, sobretudo Dasein. Se o homem é o Ser-Aí, definindo e dando sentido
a todos os entes, como dissemos, ‘Ser é a busca incessante do conhecimento’.
Esta é a sua abertura e a sua aventura, a própria definição de sua existência e
da existência em si.
Segundo o nosso
pensador, a frase: “o homem existe” não quer dizer que só ele seja um ente real
e que os demais sejam irreais. Significa, porém, que o homem é aquele cujo ser
é marcado pela in + sistência e pela ex + sistência, na manifestação e
desenvolvimento mais íntimo e mais externo do ser, a partir do ser (para fora =
ex) e no ser (para dentro = in). De fato, vejamos se a real existência do
homem, além de ser aquele que dá sentido a tudo, esta mesma descoberta, não o
define interiormente e o faz ser quem ele é. Vejamos se a existência do homem não
é mesmo uma ‘insistência’, e sua abertura, ao que está fora dele, uma aventura de
idas e vindas na própria e contínua resignificação da vida e de sua vida. O que
você acha que seja a existir, então?
Dizendo assim
parece que estamos nos referindo à existência mais autêntica, e estamos, visto
que o Dasein tem a sua interpretação própria, logo, autêntica. Entretanto,
partindo da compreensão do ser que define a existência, façamos justiça, em considerar com o autor, que esta existência é, na maior parte das vezes uma ‘existência
inautêntica’, que em sua língua se diria uneigentlich
(un + eigentich = não autêntico; não verdadeiro, não real, não original).
Quando pensamos
que já entendemos, outro conceito nos desestabiliza. Precisamos aprender mais
com Martin. Até agora estamos gostando de definir nossa existência e Ser-Aí.
Mas, quem suporta descobrir que na maioria das vezes sua existência não é
autêntica? Calma leitor, não se ofenda, já vamos explicar!
Do mesmo modo em que só o Dasein é autêntico, porque só ele pode interpretar a existência, assim também somente ele pode ser inautêntico e perder-se nessa compreensão de si,
pois essa interpretação sempre será pessoal, sua, única. Mesmo as medidas da
física, como espaço e temporalidade dependem do Dasein e a ele estão
condicionadas. O erro e o engano, durante a existência ou no momento presente,
dependem única e exclusivamente de um Dasein que é sempre meu, exclusivamente
seu. Não parece, então, que seja sem grandes consequências ser a medida de todas
as coisas! Se as interpretações são pessoais, as suas incompreensões também o
serão.
O ser humano, em
seu cotidiano, pode manter-se numa situação de encobrimento de seu ser e
possuir uma interpretação errônea de sua própria existência, que se mantém para
ele encoberta, seja na juventude ou na vida adulta; ele pode perder-se e
encontrar-se novamente, e voltar a perder-se. Pode até perder-se na ocupação, naquilo
que faz, e tornar-se isso ou aquilo. Não se perde como se perdem as coisas. Contenta-se como
um SER-SIMPLESMENTE-DADO. Não um Ser-Aí, mas um ser colocado aí. Perde-se em
suas preocupações. Perde-se quando deixa de se importar consigo mesmo e deixa
de cuidar-se. O bom da história é que o Dasein nunca deixa de ser e de falar de seu ‘eu’,
portanto nunca é completamente inautêntico, senão deixaria de ser Dasein.
Vê-se que a
inautenticidade do Dasein está ligada a um processo de impessoalidade. Quanto mais
o Dasein for definido pelo mundo menos autêntico ele será. Para Heidegger autêntico
é poder ser-si-mesmo. Ser autêntico é fazer as suas próprias coisas e não o que
o impessoal determina. Cuide-se de examinar se o ser autêntico está na origem
de sua compreensão e de sua existência ou se vai se perdendo entre um ente e
outro ou o fazer uma coisa e outra. Há de se cuidar também da condição de indiferença,
onde o Ser-Aí nem é autêntico nem inautêntico, nem faz por si nem pelos outros,
simplesmente não é aí. Vive como se não fosse nem estivesse. Bem que poderíamos nos perguntar que tipo de ser eu sou?
Heidegger lembra
que todo Da + Sein (Ser + Aí – pré + sença – pré + sente) tem uma tendência a autenticidade,
a "voz do amigo interior". O ser humano que vive em constante perigo de perda de
si tem o seu si mesmo no desdobramento da propriedade de sua essência. O filósofo alerta que ao longo
da história assistimos à perda da reflexão do ser enquanto tal, colocada pela
primeira vez no mundo pelos primeiros filósofos gregos, mas esquecida pela
tradição. A tarefa do nosso pensador e da sua analítica existencial é a
destruição dessa tradição e mostrar como no dia a dia da existência, do homem
do século XX, domina amplamente um esquecimento do ser.
Ser aí ou ter
sido colocado aí? Ser autêntico, enquanto é consciente e age por si mesmo,
sendo presença significante aí onde está ou ser inautêntico, perdido nas
mesmices externas e funcionais do cotidiano. Mesmo assim, ainda há outra forma
de ser: a indiferença. Nem se apropria nem é propriedade de outrem, um vagante
no seu des + vio. Que coisa é o ser? Assim começou a filosofia entre os gregos,
assim se define a existência do ser mais excelente: o ser humano.
16.02.16
Adeilton Santana Nogueira
Meu caro amigo quem vos escreve é Marcos( Marcão ). O motivo do meu contato é para lhe informar o meu novo numero (79) 996366462
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