FELIZ NOITE DE NATAL
Lc 2, 1 – 14
É Curioso como a maldade dos homens não tem vida própria.
César augusto publicara um recenseamento para vasculhar a vida dos judeus que terão
seus filhos recém-nascidos assassinados pelo medo de que se cumpra a profecia
que destrona sua realeza e divindade. Mas é justamente o que apressa a acontecer.
Em Belém, antes que seus pais cheguem a Jerusalém, Jesus nasce (Cf. Mq 5, 2; Mt
2, 6). O mal no mundo sempre foi uma atitude secundária à vontade de Deus, outra
atitude que não aquela esperada. Uma decisão pessoal sobre o curso natural das
coisas. Se o mal modifica, ele apressa a vontade divina.
Não há plano humano que atrapalhe a vontade última de Deus e
se Ele consente em alguma adversidade é porque em nada ou infimamente pode
prejudicar os seus planos e o resultado final do que nos espera (Cf. Pv 16, 1).
Esta já deveria ser uma certeza absoluta entre nós, de que entre o livre
arbítrio e o destino há a vontade dAquele que criou tudo o que há.
A Paixão de Cristo seria o fenômeno mais dramático da saga
humana e a sua ressurreição a maior proeza de Deus. Isto porque pensamos todas
as coisas pelos nossos limites e medidas, a partir das nossas imperfeições.
Aquilo que é impossível para nós se torna maravilha de Deus. Negamos assim a
palavra de Jesus de que faremos “obras ainda maiores” do que as Suas (Jo 14,
12). Se pensarmos no todo da obra de Deus veremos a natureza, o mundo, os
planetas, as galáxias, o universo, e cada vez mais ficamos menores diante de
tudo isso, enquanto Deus se revela ainda mais criador de todas as coisas.
Um nascimento de um menino, a coisa mais comum e desejada em
uma família judia no tempo de Jesus. Ali, naquela semente brotada de homem
continha o projeto inicial e cabal, a síntese da criação e o genoma santíssimo
da vida divina. Ali envolto em panos, como que escondido ou protegido. Haverá sempre
algo de velado em toda eloquência dos fenômenos bíblicos, assim como não se
pode entender tudo de nossa vida, ainda que especulada.
O nascimento de Jesus é um misto entre o céu e a terra,
entre a pobreza e a realeza, entre o material e o espiritual, porque sua vinda
quer explicar a todos o que ainda não entendemos. Seu nascimento é a iluminação
da humanidade, reescrevendo a história e redimensionando a evolução das
espécies. Nossa história se escreve contando a trajetória do homem ao seu Deus,
enquanto evoluímos em espírito e em verdade (Cf. Jo 4, 23).
O marco zero do Natal não é cronológico, pois as Eras já
estavam sendo contadas. A coorte angélica e os pastores que deixam seus
rebanhos, sem temer a solidão daquela noite, indicam que o mapa dos sábios do
oriente não é somente uma cópia cósmica do curso das estrelas, nem seus presentes
compensam a longitude da viagem. Trazer algo de valioso ou apenas seus bastões pastoris
não significa muito, se antes seus corações não estivessem rendidos ao momento
presente.
Pois bem, o que é o tempo presente senão a experiência
concreta do momento que não se limita ao segundo, hora ou dia da expectativa? O
tempo presente é o agora em que estamos, em que você lê este texto, linhas
após, mas com ele inteiro em seus pensamentos, perguntando qual a mensagem
desta vez.
Explico, o agora de Deus, o “hoje se cumpriu esta passagem
das Escrituras” (Lc. 4, 21), que Jesus disse na Sinagoga de Cafarnaum, quando
leu o livro do profeta Isaias, mas que poderia dizer a cada segundo de seus
dias temporais. O agora de Jesus, a chegada de Sua hora (Jo 12, 23), a
plenitude dos tempos (Gl 4, 4), pode ser lida, e esta é a nossa meditação de
hoje, desde a concepção de Jesus até o “Eu estarei convosco todos os dias até a
consumação dos séculos.” (Mt 28, 20) O tempo de Jesus é o presente eterno.
Eu arriscaria dizer que a nossa verdadeira compreensão do
Natal, antes de ser a Salvação, algo a se cumprir em definitivo na Sua Paixão,
Morte e Ressurreição, é estar e ser presente, viva e verdadeiramente, também
nós, onde estamos. Não é natalino estar sem ser, ser sem estar ou nem ser nem
estar onde nos localizamos fisicamente. Não é natalino que Ele venha ao nosso
encontro e ‘saiamos’ de cena.
Talvez esta seja uma mensagem de Natal estranha, em dizer
que é possível habitar um espaço entre outros sem ser de verdade. Mas toda vez
que o mundo em volta não for assumido pelos que aí estão eles não estarão de
fato aí, ali ou acolá. Melhor explicar, então. A alienação, a suprarrealidade ou
a virtualidade das relações desencarna os nossos natais. Nascer é estar e ser
presente no mundo entre as pessoas fisicamente, mas também conscientemente e
emocionalmente, afetivamente, portanto concretamente.
Jesus quis vir ao mundo, pois Deus não se contentou em ouvir
o clamor do seu povo (Ex 3, 7). Jesus olhou com muito amor (Mc 10, 21) e carregou
sobre Si as nossas dores (Is 5, 3), além da onisciência divina; quis caminhar
no meio do seu povo, passar entre nós fazendo o bem (At 10, 38), além da onipresença
divina; quis trabalhar (Jo 5, 17) e chorar (Jo 11, 35) além da onipotência
divina. Tudo isso para que a salvação fosse vista também com olhos humanos (Lc
2, 30) e não apenas na esperança e sobrenaturalidade da fé.
Nascer quer dizer ingressar no mundo pela luz da vida que
segue. Todos nascem, cada um em seu contexto. Infelizmente alguns de nós, de
maneira traumática, teve interrompido seu nascimento. A vida, todavia, continua
em outra luz, mais reluzente que a do natal, a saber, a luz eterna que não se
extingue (Ap 21, 23).
Portanto o Natal de Cristo é bem celebrado, revivido, se não
se restringe a um olhar para trás, mórbido e melancólico, omisso e lamentoso. Celebra
o Natal de Cristo quem percebe que a própria presença no mundo, sua vida, é um
dom de luz e decide também sentir com os que partilha a existência e divide os
espaços. Celebra o Natal quem não está aí apenas como um autômato virtualizado,
presente em todas as redes sociais menos com aqueles à sua volta, os de carne e
osso possíveis de serem abraçados e beijados com o sorriso de Feliz Natal!
Desejo que esta noite resplandeça de luz em sua vida, redescubra
o bem de estar com os que ama e de ser mais e melhor com aqueles que não te
amam ainda. Feliz Natal!
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo...
Tobias Barreto - 24.12.2015
Pe.
Adeilton Santana Nogueira
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