quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

O NASCER DA VIDA E DA LUZ

FELIZ NOITE DE NATAL
Lc 2, 1 – 14

É Curioso como a maldade dos homens não tem vida própria. César augusto publicara um recenseamento para vasculhar a vida dos judeus que terão seus filhos recém-nascidos assassinados pelo medo de que se cumpra a profecia que destrona sua realeza e divindade. Mas é justamente o que apressa a acontecer. Em Belém, antes que seus pais cheguem a Jerusalém, Jesus nasce (Cf. Mq 5, 2; Mt 2, 6). O mal no mundo sempre foi uma atitude secundária à vontade de Deus, outra atitude que não aquela esperada. Uma decisão pessoal sobre o curso natural das coisas. Se o mal modifica, ele apressa a vontade divina.

Não há plano humano que atrapalhe a vontade última de Deus e se Ele consente em alguma adversidade é porque em nada ou infimamente pode prejudicar os seus planos e o resultado final do que nos espera (Cf. Pv 16, 1). Esta já deveria ser uma certeza absoluta entre nós, de que entre o livre arbítrio e o destino há a vontade dAquele que criou tudo o que há.

A Paixão de Cristo seria o fenômeno mais dramático da saga humana e a sua ressurreição a maior proeza de Deus. Isto porque pensamos todas as coisas pelos nossos limites e medidas, a partir das nossas imperfeições. Aquilo que é impossível para nós se torna maravilha de Deus. Negamos assim a palavra de Jesus de que faremos “obras ainda maiores” do que as Suas (Jo 14, 12). Se pensarmos no todo da obra de Deus veremos a natureza, o mundo, os planetas, as galáxias, o universo, e cada vez mais ficamos menores diante de tudo isso, enquanto Deus se revela ainda mais criador de todas as coisas.

Um nascimento de um menino, a coisa mais comum e desejada em uma família judia no tempo de Jesus. Ali, naquela semente brotada de homem continha o projeto inicial e cabal, a síntese da criação e o genoma santíssimo da vida divina. Ali envolto em panos, como que escondido ou protegido. Haverá sempre algo de velado em toda eloquência dos fenômenos bíblicos, assim como não se pode entender tudo de nossa vida, ainda que especulada.

O nascimento de Jesus é um misto entre o céu e a terra, entre a pobreza e a realeza, entre o material e o espiritual, porque sua vinda quer explicar a todos o que ainda não entendemos. Seu nascimento é a iluminação da humanidade, reescrevendo a história e redimensionando a evolução das espécies. Nossa história se escreve contando a trajetória do homem ao seu Deus, enquanto evoluímos em espírito e em verdade (Cf. Jo 4, 23).

O marco zero do Natal não é cronológico, pois as Eras já estavam sendo contadas. A coorte angélica e os pastores que deixam seus rebanhos, sem temer a solidão daquela noite, indicam que o mapa dos sábios do oriente não é somente uma cópia cósmica do curso das estrelas, nem seus presentes compensam a longitude da viagem. Trazer algo de valioso ou apenas seus bastões pastoris não significa muito, se antes seus corações não estivessem rendidos ao momento presente.

Pois bem, o que é o tempo presente senão a experiência concreta do momento que não se limita ao segundo, hora ou dia da expectativa? O tempo presente é o agora em que estamos, em que você lê este texto, linhas após, mas com ele inteiro em seus pensamentos, perguntando qual a mensagem desta vez.

Explico, o agora de Deus, o “hoje se cumpriu esta passagem das Escrituras” (Lc. 4, 21), que Jesus disse na Sinagoga de Cafarnaum, quando leu o livro do profeta Isaias, mas que poderia dizer a cada segundo de seus dias temporais. O agora de Jesus, a chegada de Sua hora (Jo 12, 23), a plenitude dos tempos (Gl 4, 4), pode ser lida, e esta é a nossa meditação de hoje, desde a concepção de Jesus até o “Eu estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos.” (Mt 28, 20) O tempo de Jesus é o presente eterno.

Eu arriscaria dizer que a nossa verdadeira compreensão do Natal, antes de ser a Salvação, algo a se cumprir em definitivo na Sua Paixão, Morte e Ressurreição, é estar e ser presente, viva e verdadeiramente, também nós, onde estamos. Não é natalino estar sem ser, ser sem estar ou nem ser nem estar onde nos localizamos fisicamente. Não é natalino que Ele venha ao nosso encontro e ‘saiamos’ de cena.

Talvez esta seja uma mensagem de Natal estranha, em dizer que é possível habitar um espaço entre outros sem ser de verdade. Mas toda vez que o mundo em volta não for assumido pelos que aí estão eles não estarão de fato aí, ali ou acolá. Melhor explicar, então. A alienação, a suprarrealidade ou a virtualidade das relações desencarna os nossos natais. Nascer é estar e ser presente no mundo entre as pessoas fisicamente, mas também conscientemente e emocionalmente, afetivamente, portanto concretamente.

Jesus quis vir ao mundo, pois Deus não se contentou em ouvir o clamor do seu povo (Ex 3, 7). Jesus olhou com muito amor (Mc 10, 21) e carregou sobre Si as nossas dores (Is 5, 3), além da onisciência divina; quis caminhar no meio do seu povo, passar entre nós fazendo o bem (At 10, 38), além da onipresença divina; quis trabalhar (Jo 5, 17) e chorar (Jo 11, 35) além da onipotência divina. Tudo isso para que a salvação fosse vista também com olhos humanos (Lc 2, 30) e não apenas na esperança e sobrenaturalidade da fé.

Nascer quer dizer ingressar no mundo pela luz da vida que segue. Todos nascem, cada um em seu contexto. Infelizmente alguns de nós, de maneira traumática, teve interrompido seu nascimento. A vida, todavia, continua em outra luz, mais reluzente que a do natal, a saber, a luz eterna que não se extingue (Ap 21, 23).

Portanto o Natal de Cristo é bem celebrado, revivido, se não se restringe a um olhar para trás, mórbido e melancólico, omisso e lamentoso. Celebra o Natal de Cristo quem percebe que a própria presença no mundo, sua vida, é um dom de luz e decide também sentir com os que partilha a existência e divide os espaços. Celebra o Natal quem não está aí apenas como um autômato virtualizado, presente em todas as redes sociais menos com aqueles à sua volta, os de carne e osso possíveis de serem abraçados e beijados com o sorriso de Feliz Natal!
Desejo que esta noite resplandeça de luz em sua vida, redescubra o bem de estar com os que ama e de ser mais e melhor com aqueles que não te amam ainda. Feliz Natal!

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo...
Tobias Barreto - 24.12.2015
Pe. Adeilton Santana Nogueira


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