terça-feira, 22 de dezembro de 2015

SEJA FEITA A VOSSA VONTADE

João 18, 33b – 37
FESTA DE CRISTO REI DO UNIVERSO

A Festa de Cristo-Rei foi instituída pelo papa Pio XI, em 1925, para proclamar uma verdade absoluta em nossas vidas. Cristo é rei não apenas porque somos seus súditos, mas porque descendemos de sua realeza, somos um povo real, santo e sacerdotal. Corre em nossas veias o sangue da realeza a qual participamos. Nossa presença no mundo é o sinal de que a coorte de Jesus se estende assim na terra como no céu, onde Sua vontade seja feita.

A declaração da realeza de Jesus se dá em meio ao seu processo de condenação, naquela primeira via ‘judiosa’, em que os seus o levavam ao julgamento tirano dos homens. Respeitando as leis de sua época, os sábios de Seu tempo não puderam julgá-Lo e O entregaram aos romanos. Assim Seus contemporâneos lavaram suas mãos no pranto de Raquel chorando pela morte de seus filhos; no pranto dos inocentes e não nas águas de Pilatos.

33 Pilatos chamou Jesus e perguntou-lhe: “Tu és o rei dos Judeus?”

Lemos esta perícope no Ato da Paixão, naquela Sexta-feira Maior, da Semana Santa. Neste ano de 2015, em especial, a mesma semana em que começamos a escrever estas reflexões do evangelho. No caso, há uma ligação estreita em toda segunda parte do Tempo Comum, intervalado pela Quaresma e Páscoa. O fio condutor entremeado alinhavando toda a vida de Jesus e nossa é o título de seu féretro proclamado na estaca do Gólgota: Jesus Nazareno Rei dos Judeus. Sentença mais do que justa por causa dos nossos pecados.

Acaso foi Ele quem pecou? Embora semelhante a nós em tudo menos no pecado, se fez pecado para nossa salvação. Jesus é o único que pode tirar do mundo e do homem aquilo que Adão se rendera, enquanto primícia. O ser humano e Jesus participaram de algo que não lhes é próprio, mas passou a ligá-los íntima e definitivamente. Assim como o pecado toca o homem Jesus decidiu tocar os pecadores, fazer parte de sua vida e ensinar-lhes o caminho de volta.

Jesus não procurou ‘de quem é a culpa’, mas a assumiu em si mesmo a ponto de carregar a cruz em seus próprios ombros. Suas costas riscadas pela navalha dos gatos romanos, chicotes com lâminas em suas sete tiras de couro, tornaram-se a agulha do travessão da cruz; uma balança melhor equilibrada do que aquela da justiça vendada. Esta Jesus também a nivela por trás. Para Ele não importa o peso, ele tem que ser carregado, mas por aquele que faz a justiça, não por quem lhe pesa as partes.

As medidas econômicas, contábeis, morais, políticas e até religiosas de Jesus já se mostraram deveras diferentes das nossas, não seria diferente com o seu modo de ser justo juiz. Ele tira a culpa, carrega o pecado, assume sozinho o peso, a responsabilidade e a consequência, como se fosse dEle a culpa de quem erra; como se fosse do criador a culpa de Sua obra, dos pais os erros dos filhos e das leis o seu não cumprimento. Creio que haja muito o que dizer ainda sobre esse modo de agir do Cristo que nós não entendemos ainda. Qual é mesmo a sua lição em tudo isso?

34 Jesus respondeu: “Estás dizendo isto por ti mesmo, ou outros te disseram isto de mim?” Pilatos falou: “Por acaso, sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste?”

Há uma tentativa de desvio das atenções e envolvimento político nessa trama de denúncias e esquiva dos acusadores. Quando não há materialidade das provas também não há personificação da vítima. Tentam criar em Jesus a figura da culpa de todos e de que é culpado de tudo. Assim fica fácil de apontar para Ele, já que não falta do que acusá-Lo.

Para Jesus sempre foi importante se o que dizem dEle é algo pessoal ou noticioso. Se é uma experiência do interlocutor com quem dialoga ou se este fala do que outros lhe disseram. A opinião alheia pode até se fundamentar em experiências concretas, mas Jesus questiona o testemunho dos outros como algo pouco aceitável se agora estão juiz e réu. Curioso que o réu é quem menos se escuta nos tribunais, ainda que aos pés da cruz.

36 Jesus respondeu: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui”.

Note o leitor a insistência de Jesus em declarar que seu reino não é deste mundo. Não creio que dizia isto apenas a Pilatos. Que o leiam os práticos e os idealistas; não se leia, todavia, assim no céu como na terra. A ordem das coisas é outra. Não pense o amigo que alguma realidade presente nessa terra poderá ser comparada ao que nos espera no céu. Doce ilusão achar que conseguimos fazer o que Jesus não fez ou que conhecemos alguém tão santo quanto Ele. Esta consciência das coisas levava Jesus a sempre ensinar além das aparências e a sempre elevar o pensamento e os corações ao alto, para que a nossa inteligência e o nosso coração estejam em Deus. As realidades precisam apontar para o céu, mas não o são aqui. Esta tensão é a própria transformação das coisas, um processo lento e contínuo.

Imagine comigo. Não é verdade que todas as coisas que fazemos tem uma finalidade? Que tudo o que procuramos e as pessoas com quem lidamos, nós lhes damos um objetividade, um para quê, um por quê, às vezes até uma destinação ou temporalidade, até onde iremos com isso e até quando? Agora pense comigo. E se esta finalidade última de todas as coisas fosse o céu e fosse agradar a Jesus? Então se perguntássemos diante de tudo que nos rodeia se isso entra no céu comigo ou se Jesus faria assim no meu lugar? Qual seria a resposta? Não me diga! Acho que precisa ler este parágrafo de novo.

37 Pilatos disse a Jesus: “Então tu és rei?” Jesus respondeu: “Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”.

Uma vez li em algum santo, interpretando que somos “um povo de sacerdotes, profetas e reis”, que “somos chamados por Deus a oferecer no altar do coração o sacrifício (consagração) da nossa própria vontade” e que esta seria a vida sob a realeza de Jesus. De fato é algo muito pessoal o modo como cada um oferece esta consagração (dedicação) a Ele. No entanto, é pouco provável que, na busca do que Lhe agrada, façamos coisas tão diferentes e queiramos algo um contra o outro, do contrário ficará claro que nos enganamos e não O agradamos. Pense nisto! Não sou eu nem você quem diz o que Lhe agrada, mas Ele mesmo fala de Si. Precisamos ouvi-Lo mais, logo, citá-Lo mais também quando quisermos falar da Sua vontade.

Se precisamos restaurar todas as coisas em Cristo também precisamos nos perguntar se Ele faria assim como estamos fazendo. Fica a dica!

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo...
22.11.2015

Pe. Adeilton Santana Nogueira

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