João 18, 33b – 37
FESTA DE CRISTO REI DO UNIVERSO
A Festa de Cristo-Rei foi instituída
pelo papa Pio XI, em 1925, para proclamar uma verdade absoluta em nossas vidas.
Cristo é rei não apenas porque somos seus súditos, mas porque descendemos de
sua realeza, somos um povo real, santo e sacerdotal. Corre em nossas veias o
sangue da realeza a qual participamos. Nossa presença no mundo é o sinal de que
a coorte de Jesus se estende assim na terra como no céu, onde Sua vontade seja
feita.
A declaração da realeza de Jesus se
dá em meio ao seu processo de condenação, naquela primeira via ‘judiosa’, em
que os seus o levavam ao julgamento tirano dos homens. Respeitando as leis de
sua época, os sábios de Seu tempo não puderam julgá-Lo e O entregaram aos
romanos. Assim Seus contemporâneos lavaram suas mãos no pranto de Raquel
chorando pela morte de seus filhos; no pranto dos inocentes e não nas águas de
Pilatos.
33 Pilatos chamou Jesus e perguntou-lhe: “Tu
és o rei dos Judeus?”
Lemos esta perícope no Ato da
Paixão, naquela Sexta-feira Maior, da Semana Santa. Neste ano de 2015, em
especial, a mesma semana em que começamos a escrever estas reflexões do
evangelho. No caso, há uma ligação estreita em toda segunda parte do Tempo
Comum, intervalado pela Quaresma e Páscoa. O fio condutor entremeado
alinhavando toda a vida de Jesus e nossa é o título de seu féretro proclamado
na estaca do Gólgota: Jesus Nazareno Rei dos Judeus. Sentença mais do que justa
por causa dos nossos pecados.
Acaso foi Ele quem pecou? Embora
semelhante a nós em tudo menos no pecado, se fez pecado para nossa salvação.
Jesus é o único que pode tirar do mundo e do homem aquilo que Adão se rendera,
enquanto primícia. O ser humano e Jesus participaram de algo que não lhes é próprio,
mas passou a ligá-los íntima e definitivamente. Assim como o pecado toca o
homem Jesus decidiu tocar os pecadores, fazer parte de sua vida e ensinar-lhes
o caminho de volta.
Jesus não procurou ‘de quem é a
culpa’, mas a assumiu em si mesmo a ponto de carregar a cruz em seus próprios
ombros. Suas costas riscadas pela navalha dos gatos romanos, chicotes com
lâminas em suas sete tiras de couro, tornaram-se a agulha do travessão da cruz;
uma balança melhor equilibrada do que aquela da justiça vendada. Esta Jesus
também a nivela por trás. Para Ele não importa o peso, ele tem que ser
carregado, mas por aquele que faz a justiça, não por quem lhe pesa as partes.
As medidas econômicas, contábeis,
morais, políticas e até religiosas de Jesus já se mostraram deveras diferentes
das nossas, não seria diferente com o seu modo de ser justo juiz. Ele tira a
culpa, carrega o pecado, assume sozinho o peso, a responsabilidade e a
consequência, como se fosse dEle a culpa de quem erra; como se fosse do criador
a culpa de Sua obra, dos pais os erros dos filhos e das leis o seu não
cumprimento. Creio que haja muito o que dizer ainda sobre esse modo de agir do
Cristo que nós não entendemos ainda. Qual é mesmo a sua lição em tudo isso?
34 Jesus respondeu: “Estás dizendo isto por
ti mesmo, ou outros te disseram isto de mim?” Pilatos falou: “Por acaso, sou
judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste?”
Há uma tentativa de desvio das
atenções e envolvimento político nessa trama de denúncias e esquiva dos
acusadores. Quando não há materialidade das provas também não há personificação
da vítima. Tentam criar em Jesus a figura da culpa de todos e de que é culpado
de tudo. Assim fica fácil de apontar para Ele, já que não falta do que
acusá-Lo.
Para Jesus sempre foi importante se
o que dizem dEle é algo pessoal ou noticioso. Se é uma experiência do
interlocutor com quem dialoga ou se este fala do que outros lhe disseram. A
opinião alheia pode até se fundamentar em experiências concretas, mas Jesus
questiona o testemunho dos outros como algo pouco aceitável se agora estão juiz
e réu. Curioso que o réu é quem menos se escuta nos tribunais, ainda que aos
pés da cruz.
36 Jesus respondeu: “O meu reino não é deste
mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu
não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui”.
Note o leitor a insistência de Jesus
em declarar que seu reino não é deste mundo. Não creio que dizia isto apenas a
Pilatos. Que o leiam os práticos e os idealistas; não se leia, todavia, assim
no céu como na terra. A ordem das coisas é outra. Não pense o amigo que alguma
realidade presente nessa terra poderá ser comparada ao que nos espera no céu.
Doce ilusão achar que conseguimos fazer o que Jesus não fez ou que conhecemos
alguém tão santo quanto Ele. Esta consciência das coisas levava Jesus a sempre
ensinar além das aparências e a sempre elevar o pensamento e os corações ao
alto, para que a nossa inteligência e o nosso coração estejam em Deus. As
realidades precisam apontar para o céu, mas não o são aqui. Esta tensão é a
própria transformação das coisas, um processo lento e contínuo.
Imagine comigo. Não é verdade que
todas as coisas que fazemos tem uma finalidade? Que tudo o que procuramos e as
pessoas com quem lidamos, nós lhes damos um objetividade, um para quê, um por
quê, às vezes até uma destinação ou temporalidade, até onde iremos com isso e
até quando? Agora pense comigo. E se esta finalidade última de todas as coisas
fosse o céu e fosse agradar a Jesus? Então se perguntássemos diante de tudo que
nos rodeia se isso entra no céu comigo ou se Jesus faria assim no meu lugar?
Qual seria a resposta? Não me diga! Acho que precisa ler este parágrafo de
novo.
37 Pilatos disse a Jesus: “Então tu és rei?”
Jesus respondeu: “Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto:
para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha
voz”.
Uma vez li em algum santo,
interpretando que somos “um povo de sacerdotes, profetas e reis”, que “somos
chamados por Deus a oferecer no altar do coração o sacrifício (consagração) da
nossa própria vontade” e que esta seria a vida sob a realeza de Jesus. De fato
é algo muito pessoal o modo como cada um oferece esta consagração (dedicação) a
Ele. No entanto, é pouco provável que, na busca do que Lhe agrada, façamos
coisas tão diferentes e queiramos algo um contra o outro, do contrário ficará
claro que nos enganamos e não O agradamos. Pense nisto! Não sou eu nem você
quem diz o que Lhe agrada, mas Ele mesmo fala de Si. Precisamos ouvi-Lo mais,
logo, citá-Lo mais também quando quisermos falar da Sua vontade.
Se precisamos restaurar todas as
coisas em Cristo também precisamos nos perguntar se Ele faria assim como
estamos fazendo. Fica a dica!
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo...
22.11.2015
Pe.
Adeilton Santana Nogueira
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