Acredito que
todos já falaram algum dia sobre essas três situações da vida: o ser, a
angústia e a morte. Não precisa ser melancólico para tratar desses temas, seja
em solitárias elucubrações ou em rodas de conversa, seja provocado por alguma
catástrofe ou simplesmente pela grandeza e profundidade dessas palavras e suas
respectivas situações existenciais. Quem nunca se perguntou sobre a própria
vida, quem nunca se angustiou com algo ou alguém, quem nunca pensou na morte?
Mas desta vez venho
pedir emprestado, ou melhor, tomo nas mãos do filósofo alemão Martin Heidegger
e de suas ideias do ser humano como um ser-para-a-morte, assim como se fosse
uma palavra só. Sua palavra aglutinada, ao leitor que não o leu, parece tétrica
e pesarosa, algo do tipo depressivo, mas se trata do contrário, o que pretendemos
apresentar nesta nova sequência de textos, onde parto da minha pesquisa de
conclusão do curso de licenciatura em filosofia.
Há algum tempo
já quis propor esta conversa com o leitor para simplificar esses conceitos
aparentemente complicados e misteriosos ao pensador comum, como morte,
angústia, nada. Longe de querer aumentar a melancolia da sociedade e justificar
seus desvarios pretendemos, com o auxílio do filósofo que mais se dedicou
nesses temas e pode apresentar uma saída pessoal, quiçá ajude a nós todos,
através da tomada de consciência e de atitude.
Escolhi Martin
Heidegger (1889 - 1976) pelos temas e por ser um dos principais nomes que se destacam
na exposição da filosofia, nas correntes da fenomenologia e do existencialismo.
O pensamento dele é, seguramente, um referencial na história da filosofia no
Ocidente. Nestas reflexões que começaremos juntos, partiremos sempre do esclarecimento
conceitual de Heidegger, ou seja, o que é para ele cada coisa que estaremos
refletindo. Primeiro ele diz o que é, depois nós tentamos aplicar à nossa vida
cotidiana e a nos questionar sobre suas ideias, se são relevantes para nós e se
nos ajudam em alguma nova e boa compreensão daquilo que nos questiona. Para isto
nos basearemos em sua obra principal, “Ser e Tempo”, sem deixar de folhear outras
obras suas, bem como de seus comentadores. Desejamos, com isso, fazer uma
reflexão sobre a analítica existencial da finitude, pois é, seguindo a linha de
raciocínio de Heidegger, em vista do fim de tudo que se percebe o valor das
coisas que o antecedem, inclusive o valor das coisas que vem depois do fim
delas. Só digo que vale a pena pensar e escrever mais um pouco sobre o conceito
de ser-para-a-morte, ao invés de congelar nele como se não nos dissesse nada
além da morte do ser.
Caro leitor, nós
iremos fazer um passeio no pensamento do filósofo Martin Heidegger; vamos dar
uma volta em torno do conceito e das categorias do ser-para-a-morte, encontrando
o aspecto positivo da angústia e da possibilidade da morte como inevitável,
para a qual o ser existente possa se projetar e, assim, se abrir a uma
existência autêntica, sendo senhor de si, que é a tomada de atitudes, suas
escolhas e suas consequências.
Para chegar ao
que se propõe nesta trajetória trataremos primeiro dos conceitos fundamentais da
filosofia heideggeriana como: Ente, Ser Dasein, Existência, Mundo, Ser-no-Mundo
e Ser-com-Outro. Será um encadeamento de conteúdos que vão tecendo o conceito
principal de Ser-aí, o Dasein. Não se preocupe o leitor que estaremos
caminhando e dialogando juntos com o nosso pensador. Serei apenas um guia, quem
sabe um mordomo. Mais adiante entraremos no inevitável fenômeno de abertura do
Ser, que para ele se chama Angústia. Fator fundamental para despertar a tomada
de consciência, gera temor e medo, mas projeta o ser na transcendência e na
morte que trataremos já nos últimos textos e reflexões. É nessa fase, a morte,
entendida muito diferentemente do que apenas a morte corpórea, quando o homem
pode sair da inautenticidade para a autenticidade. Quantas implicações em vida
não despertará esta nova consciência de um ser-para-a-morte!
Por hora deixo apenas
uma pergunta: como seria possível alcançar a autenticidade em vida, se esta,
para Heidegger, é na morte, e a morte é o fim? Não se apresse em responder. Mas,
pense mais um pouco. Contudo, para encontrar a resposta a esta pergunta
angustiante será necessário também chegar ao fim, ao menos destes escritos. Assim
espero, que ao final deste intento, todos sejamos mais autênticos e menos
angustiados. Este é o principal motivo por que decidi recomeçar esta obra.
25 de janeiro de 2016
Adeilton Santana Nogueira
Nenhum comentário:
Postar um comentário