Jo 2, 1 – 11
Bodas de Caná
1º Domingo Comum B
Bodas de Caná
1º Domingo Comum B
Assim começa o Tempo Comum, dedicado
à vida pública e comum de Jesus, Seu dia a dia, se bem que Jesus não tinha nada
de comum na Sua vida pública. Seus afazeres foram todos sacramentais, dos gestos
às palavras. Assim Ele reescrevia com a Sua vida a vida de cada um de nós. Quem
mais fez isso?
A vida de Jesus é pública desde que
foi concebido em Maria virgem. Aos poucos foi reunindo pessoas em torno de Si.
Algumas aparições Suas são relatadas sempre com maestria pelos evangelistas. Há
sempre uma solene descrição de Sua presença. Cada história é um relato bem
construído, com começo meio e fim. Cada cena sozinha é completa, mas também
completa um grande quebra cabeça que até hoje tentamos inserir nossas pequenas
peças.
1 Houve um casamento em Caná da Galileia. A
mãe de Jesus estava presente. 2 Também Jesus e seus discípulos tinham sido
convidados para o casamento. 3 Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhes
disse: “Eles não têm mais vinho”.
Mãe, filho e discípulos, todos são
pessoas sociais. Apesar de convidados, estão atentos à festa como se fosse sua
responsabilidade. Religiosos enfurnados ou devotos carolas, que não deixam as
paredes do templo e de suas casas para conviverem no mínimo de normalidade,
apontam não o pecado da sociedade, mas para a esquizofrenia de suas neuroses e
medos mais íntimos. A religião urge de pessoas mais engajadas no mundo e não
somente em seus espelhos narcisistas.
Desta vez o cenário está em uma
festa de casamento. Parece que o código da Bíblia é assim: começar com o fim.
Se o Gênesis começa com a revelação do paraíso, Jesus começa com a revelação
das núpcias do cordeiro que desposa a sua Igreja. Há um simbolismo muito grande
nestas cenas. Elas precisam ser vistas no conjunto do ensinamento de Jesus.
Cada situação que Ele passa traz uma nova chave que abre outra porta do viver
cristão. Esta, por exemplo, levantou em mim uma questão curiosa. Não foi
somente o vinho que faltara, eles também não tinham enchido as talhas para
purificação.
4 Jesus respondeu-lhe: “Mulher, por que
dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou”. 5 Sua mão disse aos que estavam
servindo: “Fazei o que ele vos disser”.
Uma vez disse a minha mãe que ela
não era apenas a melhor mãe que eu conhecia, mas que era a melhor pessoa de
todas. Não a diminuí enquanto mãe quando a classifiquei melhor enquanto ser
humano. Penso que ao chamar de mulher Jesus a vê mais amplamente, bem como
identifica as mulheres à Sua mãe, não pela maternidade, mas pelas atitudes de
confiança incondicional que ela tem nEle (“Fazei
o que ele vos disser”).
6 Estavam seis talhas de pedra colocadas aí
para a purificação que os judeus costumam fazer. Em cada uma delas cabiam mais
ou menos cem litros.
Sim, agora entra a polêmica! Como aqueles
judeus não tinham se preparado para os rituais de purificação e enchido aquelas
talhas de água? Aquela família, amiga da sagrada família, ao que parece, não
praticava as abluções do judaísmo conservador, portanto poderiam ser judeus
reformistas. Ainda mais poderia indicar que algumas práticas antigas e externas
já perderam sentido.
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Jesus disse aos que estavam servindo: “Enchei as talhas de água”. Encheram-nas
até a boca. 8 Jesus disse: “A gora tirai e levai ao mestre-sala”. Eles levaram.
9 O mestre-sala experimentou a água, que se tinha transformado em vinho. Ele
não sabia de onde vinha, mas os que estavam servindo sabiam, pois eram eles que
tinham tirado a água.
Quando estive na casa onde supostamente
ocorrera esse milagre, em novembro de 2008, lá estava uma dessas talhas parecidas
com nossos potes de barro, ainda presente em algumas cozinhas do interior. Lá também
vi que os apaixonados jogavam moedas e bilhetes esperando alcançar algum novo
milagre. Não joguei nem deixei nada, mas ainda trago a admiração de uma casa
tão pequena para uma festa de casamento. Acredito que, se foi ali, a cena se
deu mesmo no interior da casa o que confirma a intimidade dos convivas
sagrados. A festa mesma ocorreria do lado de fora da casa, onde se pode acolher
mais pessoas. Os problemas de casa, de fato, acontecem e se resolvem, em sua
maioria, dentro de casa.
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O mestre-sala então chamou o noivo e lhe disse: “Todo mundo serve primeiro o
vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, serve o vinho menos
bom. Mas tu guardaste o vinho bom até agora!”
Tanto o mestre-sala quando o vinho
são novidades da segunda etapa desta narrativa. A embriaguez legitimada por
Jesus, a alusão repetida em outros evangelhos de um mordomo, um intermediário
entre a comunidade e o milagre, papel dos ministros religiosos, o vinho vertido
da água da purificação, indicam figuras escondidas no texto que merecem uma
meditação e estudo mais aprofundados. Mas já indicam a temática geral desse
Tempo litúrgico.
Jesus começa aqui vertendo água em
vinha, mas terminará seu ministério público vertendo o vinho de outra
celebração, sua páscoa, em seu sangue. Naquele dia da Nova e Eterna Aliança, o
noivo será Jesus e o mordomo cada um dos apóstolos reunidos. Maria não mais
precisará dizer: “Fazei o que ele vos
disser”, pois o próprio noivo não deixará mais faltar vinho. Ele mesmo dirá
de Si: “Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós”
(Jo 13, 15) e “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22, 19).
11
Esse foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galileia e
manifestou a sua glória, e seus discípulos creram nele.
Eu desejo que, ainda que falte a
pureza, jamais lhe falte a graça de Cristo e ainda que haja vinho em suas veias
não lhe falte o sangue nos olhos. Não seja um cristão de festas, mas de
martírio. Fica com Deus e tenha uma semana abençoada!
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo...
Barra dos Coqueiros – SE,
17.01.2016
Pe.
Adeilton Santana Nogueira
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