quarta-feira, 20 de maio de 2015

MISERICÓRDIA SEMPRE

Há pouco partilhava com um amigo sobre este artigo e ele me perguntou porque não o postei ontem. Respondi que prefiro sempre deixar que o dia me fale por si mesmo. Só então depois digo o que conversamos, o dia e eu. E hoje ele me disse o que segue...
Depois do amor com certeza a experiência mais nobre é a Paixão. E depois dela a sua primogênita, a saber, a misericórdia. Os 3 são sentimentos humanos que atribuímos a Deus, pois lançamos sobre Deus nossas maiores aspirações. À divindade tudo que  temos de melhor.
Mas se vem dele ou lhe atribuímos não importa... Isto só prova à grandeza desses valores. Amor, Paixão e Misericórdia é a tríade do desfecho da vida de Jesus. E dando continuidade à sua grande semana neste domingo se celebra a Divina Misericórdia.
Creio que a Bíblia precisava mesmo ter sido escrita em três línguas: Hebraico, Grego e Latim, senão correríamos o risco das interpretações particulares e já aqui as línguas se interpretam cheias de cultura e semântica. Explico: misericórdia em latim: miseratio - cordis, traduzidas por compaixão e coração. Mas quero ir além, até a raiz de "miseratio", "miser" que é infeliz e desprezível. Então por se tratar de um ato do coração, de amor ou paixão, misericórdia é ter o coração no que é desprezível e infeliz. Ou melhor, é amar o que não é amado. É inclinar-se sobre, para sentir com e sentir junto de.
Logo, é misericordioso quem vai além das paixões, além do simples sofrer por quem ama, para sofrer por quem não ama ou não é amado. Do que foi dito, seria a misericórdia um sentimento maior que o amor, maior que a paixão? Prefiro entender que não há misericórdia sem amor ou paixão e que ela decorre dessas outras duas. Os sentimentos se completam enquanto evoluem. Eles não se trocam, mas se complementam enquanto se transformam. Em algum momento na vida de quem ama houve paixão, e precisa haver misericórdia. Do contrário eu arriscaria em dizer que esse amor essencial jamais evoluiu.
Jesus, por sua vez, nos dá diversos exemplos para a autoanálise. Porém está falando de si e de seu pai: do Deus amor e do filho do amor. A parábola do pai misericordioso com o filho pródigo é clássica. Quase não vemos a imagem do divino Pai que anseia a volta celestial de seu filho depois de tocar os pecadores. Penso quando leio e rezo q o filho do amor se enchia do que conhece do Pai para falar da busca arriscada, porém destemida da ovelha perdida. A misericórdia parece ser o estágio final na identificação com a essência de Deus que é amor. De modo que se lhe falta poderia negar a verdade desse sentimento.
Jesus chega a dar uma condição especial à misericórdia na linha da reciprocidade. Ao passo que a compromete também garante a volta desse tipo de amor. Lembremos que em tudo ele nos manda "fazer o bem sem olhar a quem", o que a mão direita fizer que a esquerda não saiba, mas quando fala da misericórdia a eleva à condição de Bem Aventurança e de reciprocidade. Bem Aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia. É quase uma aplicação da Lei do Talião: olho por olho, dente por dente.
Algum justo de plantão poderia dizer: e quem não for misericordioso alcançará misericórdia? O "justo de plantão", estilo palmatória do mundo, busca igualdades em que não costuma se inserir. Mas lhe demos uma resposta: a misericórdia é um caminho, uma progressão do amor e uma garantia de retorno do amor que se dá. O mais só a vida, a experiência e o céu dirão.
O caminho da felicidade, a bem aventurança, trilha por aqui: a misericórdia. Todos a querem, poucos a experimentam. Jesus ensinou: dê misericórdia, seja misericordioso e alcançará, ela retornará a você. Alguém será misericordioso contigo. O caminho da experiência é esse. Só não é assistir a uma tragédia e compadecer-se ou celebrar um rito de memória como cumprimento de preceitos religiosos apenas.
Ainda no Antigo testamento a palavra para misericórdia é hebraica, Hesed. E traduz a fidelidade consciente e responsável, coisa de família. Porém o mais apropriado seria dedicação. Assim se apelidava o "HSD" de Deus, tantas vezes ligado a "emet" (verdade). É essa proximidade que valida um sentimento que pretende expressar amor e verdade. Compromisso, comprometimento, fidelidade, responsabilidade.
Esses sentimentos precisam ser reais, existirem, aparecerem de fato; precisam ser usados, aplicados, vividos, experimentados. Não são palavras latinas, hebraicas, gregas ou portuguesas. São a evolução do amor. Deus é amor porque é compassivo e misericordioso, assim também citado no Alcorão.
Deus me permita a seguinte pergunta: Se Deus não fosse compaixão e misericórdia continuaria sendo amor? De fato se não amamos os infelizes, quão desprezível não é essa situação! A solução é muito simples se usarmos a mesma fórmula do amor e da paixão. É colocar-se no lugar de quem padece, como fez Jesus vindo ao nosso encontro e Deus habitando em nossos corações.
Agora permita-me que lhe pergunte: e se fosse você, a sua vez de sofrer sozinho? O que mais importaria agora? Isto mesmo: alguém cheio de misericórdia.

Boa sorte e boa semana!

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