quinta-feira, 14 de maio de 2015

SEXTA NA PAIXÃO DE CRISTO

Dizem por aí que todo mundo já se apaixonou um dia e quem não ainda espera encontrar o grande amor de sua vida antes da morte. Com Jesus não foi diferente, porém sua paixão o levou à morte. Talvez se encontre aqui ao menos o sentido Cristão desse sentimento vivido com atitude. Assim Ele põe em questão até o sentido do sofrimento, coisa que ninguém quer e Ele amou.
A origem da palavra quase explica tudo. Passio é latim e traduz “o que foi sofrido” por resignação, submissão, e Pathe do grego sentir. Sentir o sofrimento parece uma redundância. Talvez prove a Kenosis que S. Paulo fala, também do grego rebaixamento e esvaziamento; sendo Deus se fez homem. Paixão é experimentar a dor. Apaixonar-se é deixar-se ferir. Paixão sem amor é loucura e masoquismo. Por isso o Filho do Deus Amor apaixonou-se e hoje é o dia de sua Paixão.
Contam que logo depois da ceia ele foi ao Horto das Oliveiras. Para nós um morro ou colina, não mais fora da cidade, de onde se avista toda a Jerusalém e ainda hoje se encontram lá pés de azeitona daquela época, talvez porque foram banhadas pelo suor e sangue do Redentor. Naquela madrugada também começou a Via Crucis, noite em claro, de seu inquérito e julgamento até a sua exposição e sentença: Eis o homem. Até onde levaria a paixão de alguém? Qual o preço do seu amor?
Não precisamos aqui refazer as estações católicas da Via Sacra, pois é melhor que cada um hoje refaça sua trilha e redescubra as suas estações, as pessoas, as paradas, e o quanto regou com sangue, suor e lágrimas o chão pisado com a dor. Paixão não é passagem. Passagem é o conceito Hebraico de Páscoa, mas sobre isto escreveremos amanhã. Paixão é percurso enquanto se caminha. Quando se diz que Ele passou no mundo fazendo o bem, fazer o bem é sua paixão.
Apaixonar-se é uma experiência tão mágica que pode traduzir o próprio amor e a felicidade. É a concretização das maiores realizações humanas. Talvez algumas paixões não o sejam por não se inspirarem em Cristo. Refiro-me ao modo como amou e a quem ele amou. Amou a igreja até a morte e morte de cruz. Eis o segredo da Paixão que é amor: uma "passio" continuada, uma dor diferente que virou percurso, caminho trilhado junto, segredo e revelação de uma morte repleta de sentido, vivida, não provocada, aceita, resignada e forte, consciente. Então qual o seu propósito?
Hoje é um dia de silêncio e oração, de jejum. Ele nada disse nem comeu. Ficou fraco, sentiu fome e sede. Caiu e levantou-se três vezes. Mas rezou. Sem silêncio não dá pra ouvir a sua dor, sem oração não dá para dialogar com Ele. Sem jejum não dá para acompanhá-lo até à cruz. Só Ele poderá falar de si mesmo e contar por que o seu amor foi até a dor. Que a brevidade desses dias não tire sua eloquência.
Quando os ministros se deitam no chão no início do ato litúrgico de hoje; quando o crucifixo entra na igreja coberto de vermelho; quando o celebrante tira os sapatos e se ajoelha para o beijo de adoração da cruz; quando o ato de hoje não é nem pode ser missa; quando saem as imagens do Filho e da Mãe das Dores, ao som da matraca e do canto da Verônica. Como entender tudo isso sem silêncio, sem oração, sem penitência!? Cada ato lembra a Paixão de Cristo por cada um dos que o Pai lhe deu e Graças a Deus que Ele disse: "Eu não perdi nenhum daqueles que o Pai me deu!"

Mantenha-se neste dia em vigília como bom veleiro e guardião da fé, em prudência e austeridade, em observação atenta e em constante meditação. Deus lhe conceda uma intuição profunda e um firme propósito em sua paixão: amar, pois hoje é um dia de luto. A cor preta, o altar nu, a escuridão, a prostração, sem instrumentos musicais, tudo lembra morte, mas o sentido deste dia não é a morte sozinha. A leitura longa do relato da Paixão indica o conjunto de ações do Cristo que culminarão em sua tragédia. Só assim os seus algozes, o pecado e os pecadores, contemplarão o fracasso de suas intenções: uma morte temporária e a vitória do amor. Até amanhã!
03.04.2015

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