quarta-feira, 20 de maio de 2015

RAMOS DA MESMA VIDEIRA

(Jo 15,1-8)

Hoje refletimos um pouco sobre a Videira Verdadeira, a terceira e mais bela das alegorias silvestres citadas nos evangelhos, entre as quais Jesus se identifica, como a do semeador e a dos vinhateiros homicidas.
Jesus usa diversas figuras do campo e do cotidiano de um povo simples, válidas para todos, mesmo para os grandes cidadãos das metrópoles de hoje. Ele fala da árvore que se conhece pelos frutos, mandou reparar nos lírios dos campos e na sua beleza espontânea, no grão de mostarda, na figueira infértil, algumas dessas inspiradas em outras das Escrituras.
“Vocês já estão limpos, pela palavra que tenho falado.” (v.3)
Essas comparações são a palavra de Deus já citada na natureza. É o ensinamento disponível a todos universalmente. O senso comum negado ou confirmado pela ciência. É uma recorrência eloquente do mestre. Hoje ele mesmo se compara a uma videira. E como o pastor está ligado ao rebanho, ele e nós assim nos ligamos essencialmente: "Eu sou a videira", mas "vocês são os ramos".
"Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma.” (v.5)
Não precisa ser biológico ou agrônomo para entender que os ramos são a parte da videira que se estende procurando onde se prender e amarrar-se para suster os cachos de uvas. A sabedoria entendeu, a muito custo, que a poda é vital para o arbusto e para o sabor de seu fruto. A seiva que corre não se desperdiçará em galhos sem frutos. Por isso “eles devem ser cortados no terceiro nó”. Assim me ensinou o Pe. Fernando Ávila, um amigo, quando eu plantei videiras, no terreiro do seminário onde fui reitor.
Eu queria ter mais claro algo sobre a videira e sobre Jesus. Confesso que às vezes ficava admirado com a quantidade de galhos e folhas cortadas. Embora cresceram na videira não vigariam. Eu as observava amontoadas debaixo da videira. Mas não as jogava, preferia triturar e encostar aos pés da planta para ver se ainda poderia servir para adubo.
“Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados.” (v.6)
Confesso que é constrangedor ver o joio crescer com o trigo enquanto os galhos da videira são arrancados. Parece confuso e injusto, mesmo sabendo que um faz mal de fora e o outro destrói por dentro. O joio é outra coisa além do trigo, mas os ramos e a videira são a mesma planta. Entenda-se então que a poda da verdadeira se dá justamente em si mesma.
“Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta; e todo que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda.” (v.2)
Podar os outros não seria a coerência da videira. A seiva que passa nos ramos é que deve ser direcionada, concentrada. Sem antonomásias ou projeções, o critério da poda é a união a Cristo e nada mais. Sem pessoas, prédios, ou fórmulas, mas na única pessoa necessária: Jesus.
“Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e será concedido.” (v.7)
Outra união ou enxerto seria um risco à plantação. Eis por que arrancar. Porque suga a vida dos demais galhos. O joio sufoca e a rama infértil rouba seiva, enfraquece toda a planta. Estas são duas grandes ameaças aos frutos. É um alerta que nos pede coragem e desprendimento. Há duas lições: união e poda.
Cortar pessoas do círculo de amizades, mesmo entre os de religião, parece ascese, mas ferir-se e renunciar a si mesmo, negar-se, perder algo enramado, seguro a outros galhos, para não roubar a seiva da videira, isto parece ser uma pratica cada vez menos comum, mesmo entre os de religião. Basta procurar pessoas com esse testemunho de vida na comunidade, seja onde for. Quantos cristãos provados se conhece?
“Meu Pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto; e assim serão meus discípulos.” (v.8)
Deus queira que o leitor e o escritor sejam desses raros ramos verdadeiros, provados no fogo e capazes de renúncias. Mortos em Cristo, mas novas criaturas. Jesus o sabe. Vale lembrar que Ele também sabe ser duro na ternura e o é com todos. Há uma prestação de contas, uma cobrança do que foi confiado. Veja a parábola dos talentos, a separação do rebanho, não há cristianismo sem responsabilidades. O julgamento, porém, não é dos outros, mas de si mesmo. Não julgarei você, mas eu preciso me julgar.
“Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Nenhum ramo pode dar fruto por si mesmo se não permanecer na videira. Vocês também não podem dar fruto se não permanecerem em mim. “(v.4)
Por fim há também uma última responsabilidade na cepa da raiz ou no corte dos ramos, em quem exerce alguma paternidade sobre os demais. Eis uma missão delicadíssima em qualquer circunstância. Se a poda é pessoal, e há alguém externo à árvore que poda, seu papel é o do Agricultor, o de Deus o Pai, na parábola. Exercer a mão divina na vida do jardim que não plantou será um trabalho deveras delicado, sobretudo se o vinhateiro não é o dono nem o herdeiro. Mas também, um dia, eles prestarão contas ao Agricultor; afinal, quem sabe qual árvore o Pai não plantou ou qual galho não está unido à videira?
"Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor.” (v.1)


03.05.2015

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